quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O 8º Grande Axioma: DA RELIGIÃO E DO OCULTISMO

O 8º Grande AxiomaDA RELIGIÃO E DO OCULTISMO

É improvável que entre os desígnios de Deus para oUniverso se inclua o de fazer você ficar rico.Quando eu era jovem, um pastor protestante costumava jantar lá em casa de vez em quando. Ele e FrankHenry conheciam-se de meninos, da cidadezinha de Wadenswil, na margem do sul do lago Zurique. Eleemigrara ainda jovem para a América, e agora era o pastor de uma igrejinha em algum canto de Nova Jersey.Certa noite, ele transbordava de entusiasmo. Contou que o Senhor dera uma grande oportunidade à sua igreja.Um membro do seu rebanho, homem já idoso, estava se mudando para um clima mais ameno. Por uma razãoqualquer, a mudança tinha de ser rápida, e o homem queria um desligamento total, sem deixar qualquer vínculo.Entre o que ele tinha e não queria que ficasse para trás, estava uma área de cerca de 50.000 metros quadrados deterra nua, nos limites da cidade. Comprara a terra como investimento, havia muitos anos, e nunca fizera nada ali.Queria vendê-la antes de mudar-se. Como presente de despedida para a igreja, oferecia-a pelo mesmo preço quecomprara.O pastor estava animadíssimo. A sua paróquia jamais tivera muito dinheiro, e ali se apresentava aoportunidade de ganhar uma fortuna da noite para o dia. Por toda a cidade, os preços dos terrenos andavam emdisparada, e o local onde ficava a tal propriedade era considerado ótimo para residências. A igreja poderiarevender a área imediatamente, e ter um bom lucro, ou abrir uma ou duas estradinhas nela, dividi-la em lotes deuns 2.000 metros quadrados e aguardar um pouco, lucrando muito mais. Finalmente, exultava o pastor, aparóquia teria dinheiro para todas as boas obras que precisavam ser realizadas!Frank Henry disse que ficava muito feliz com a boa nova, e sugeriu que talvez fosse um pouco bom demaispara ser verdade. Na sua experiência, disse ele, os negócios da China, com lucro 100% certo, em geral acabavamem arapucas. Especuladores amadores viviam caindo nelas e depois se arrastando para fora, bolsos vazios.O pastor não lhe deu ouvidos. Era um presente de Deus. Às vezes o Senhor pune, às vezes Ele nosrecompensa, Não nos cabe fazer perguntas demais; a nós cabe aceitar o que nos é dado. O pastor não tinha amenor preocupação.Muito tempo depois, Frank Henry e eu ouvimos o final da história. Pressionada pelo pastor, a congregaçãovotou a favor da compra da terra, e criou uma comissão para estudar o que fazer com ela. A decisão foi dividir aárea em lotes. O presidente da comissão e o pastor foram à Prefeitura em busca das licenças necessárias, e oinspetor de obras deu-lhes a má notícia.Aquele pedaço de terra, disse ele, tinha algumas características problemáticas. Superficialmente, pareciaperfeitamente seco; alguns palmos abaixo, porém, era pântano puro. Nenhum sistema de drenagem que seconstruísse ali funcionaria. Ao longo do tempo, mais de um proprietário já pretendera desenvolver a área, mas aPrefeitura sempre recusara a menos que se fizesse ali um fantástico investimento em obras de saneamento edrenagem. Por isto é que a terra ficara sempre assim, nua.A igreja caíra num conto-do-vigário.Moral da história, segundo Frank Henry: não se fica rico rezando. Na realidade, se a sua mente se acharocupada com dinheiro enquanto você estiver rezando, o mais provável é empobrecer com as rezas. Se dependede Deus, ou de qualquer outra força ou entidade sobrenatural, para alcançar a fortuna, há grandes probabilidadesde que, um dia, você abaixe a guarda e perca tudo.Se Deus existe - questão sobre a qual os Axiomas não têm opinião -, não existe nada que prove que o sersupremo esteja se importando se você morre rico ou pobre. Várias vezes, na verdade, a Bíblia diz que, do pontode vista da manutenção de uma alma sadiamente cristã ou judaica, ser pobre é até melhor. Muitas religiõesorientais dizem a mesma coisa. (E certa vez Abraham Lincoln observou que Deus devia gostar muito dos pobres,já que tinha feito tantos deles.) Isto posto, no que se refere aos Axiomas, não faz a menor diferença se você édevotamente religioso, ateu, ou mais ou menos. Sejam quais forem suas crenças, Deus e outras forçassobrenaturais não devem ter nenhum papel a desempenhar no seu comportamento como especulador.Apoiar-se no sobrenatural tem o mesmo efeito que apoiar-se em previsões ou em ilusões de ordem. Tem acapacidade de atraí-lo para um estado perigosamente despreocupado. Padres, pastores e rabinos vivem dizendoàs pessoas que não devem rezar pedindo dinheiro, mas muita gente reza. Se não forem pedidos diretos em favorde uma solução financeira qualquer, muita gente piedosa acredita ser beneficiária de alguma apólice celestial deseguro: ‘’Deus me ajudará.’’Não conte com isto. Deus é capaz de fazer muito por você, mas uma coisa que não preocupa a Ele é o seusaldo no banco. Isto é problema seu. Só seu.Jesse Livermore, com quem travamos conhecimento quando estudamos outro Axioma, não se apoiava emDeus, mas em outra espécie de ajuda extraterrena. Isto pode ter contribuído pesadamente para a queda final dessehomem tão complicado. Vale a pena examinarmos a sua história.Nascido pobre, numa fazenda em Massachusetts, logo no começo da vida Livermore resolveu que gostaria deser rico. Em 1893, foi para Boston e arranjou emprego numa corretora. Os sistemas eletrônicos ainda não haviamsido inventados; ágeis rapazes subiam e desciam escadas velozmente, anotando a giz, num gigantesco quadronegro,as variações nos preços das ações. O primeiro emprego de Livermore foi este. Ao amadurecer na tarefa,ele desenvolveu o que, aos seus amigos, parecia uma extraordinária capacidade de adivinhar para que lado ospreços se voltariam.Certamente, essa capacidade era uma combinação de intuição e sorte, mas começaram os rumores declarividência e força ocultas. Livermore jamais aceitou estas explicações para o seu sucesso como especulador,mas tampouco as rejeitou totalmente. Passou a vida toda se perguntando se não seria verdade. Frank Henry,pessoalmente, sempre achou que Livermore se teria saído muito melhor se nunca tivesse ouvido falar nessascoisas místicas.Passados alguns meses anotando cotações no quadro-negro, o rapaz começou a aplicar dinheiro nas suasprevisões. O meio especulativo que ele escolheu era uma espécie de casa de apostas, comum em Boston e outrascidades. Essas casas estimulavam a jogatina na Bolsa de Valores, das formas mais exageradas e bizarras. Vocênão era obrigado a comprar propriamente ações. Fazia vários tipos de apostas nas oscilações das cotações. Jogomesmo, no duro. As probabilidades eram sempre a favor da casa. Para lucrar, o especulador precisava, além demuita sorte e bons palpites, ter um firme comando sobre outros talentos que vimos estudando: quando cortarprejuízos, como estabelecer posições de saída etc.Jesse Livermore descobriu que tinha esses talentos em grande abundância. Nascera para especular.Começando com um capitalzinho mínimo, níqueis economizados do seu pobre salário, logo havia acumuladocerca de 2.500 dólares, soma enorme para um jovem naquele tempo. Tornou-se tão competente que as casas deapostas, uma após outra, pediram que fosse jogar em outra freguesia.Foi parar em Wall Street - no primeiro time. Sem perda de tempo, Livermore estabeleceu-se como um dosmais espertos especuladores que apareceram ali. Ficou famoso antes dos 30 anos.Cabelos louros esvoaçantes e gélidos olhos azuis, aonde quer que fosse, Jesse atraía mulheres e repórteres.Casou-se três vezes, e mantinha amantes em apartamentos e hotéis por toda a América e Europa. Quandoviajava, atrás ia um bando de puxa-sacos e sicofantas. Mal conseguia dar um passo em Nova York sem ter deparar para distribuir palpites sobre o mercado. Era fotogênico e dava boas entrevistas; na aparência e naspalavras era um homem de inabalável confiança. Por dentro, porém, vivia perseguido pela história daclarividência.Não sabia se era ou não clarividência. Inúmeros artigos em jornais e revistas diziam que sim, e todos os seuspuxa-sacos concordavam entusiasmados. Às vezes, Livermore pensava que podia ser; às vezes, achava que eratudo bobagem.O que ele tinha, mesmo, eram alguns espantosos golpes de sorte, que acabavam dando apoio à idéia de queele enxergava o futuro. Certo dia, em 1906, entrou numa corretora e disse que queria vender Union Pacific adescoberto. O corretor ficou perplexo. Vender Union Pacific a descoberto? Era a maior besteira do mundo. Omercado estava em alta. Union Pacific era um dos papéis mais quentes que havia. Longe de vender a descoberto,a grande maioria dos especuladores estava era gulosamente comprando e dando certa garantia.Livermore, porém, insistiu na operação. A única explicação era que tinha um palpite de que a cotação estavaalta demais, e que vinha vindo uma ‘’correção’’. No dia seguinte, tornou a aparecer na corretora e mandouvender a descoberto mais um monte de ações do gigante ferroviário.Um dia depois, 18 de abril de 1906, São Francisco foi devastada por um terremoto. Sob os escombros,desapareceram milhões de dólares em trilhos e outras propriedades da Union Pacific, além de outros incontáveismilhões em lucros potenciais. A cotação do papel caiu feito uma pedra. Jesse Livermore saiu do episódio uns300.000 dólares mais rico.Eventos aparentemente inexplicáveis como este acabam acontecendo com todo mundo que especula tempobastante. Todos que vivem de assumir riscos têm histórias semelhantes para contar. É quase certo que algo assimaconteça com você. Não provam coisa alguma, a não ser que os acasos acontecem às cegas, machucando alguns,enriquecendo outros, sem perguntar quem é quem. Sem sombra de dúvida, Jesse Livermore não foi o único avender Union Pacific a descoberto naquele momento, nem a beneficiar-se, de um jeito ou de outro, da catástrofede São Francisco. É improvável que muitos dos outros acreditassem possuir poderes mágicos de prever o futuro.Devem ter-se dado conta, apenas, da sorte que tiveram. A mesma coisa com Livermore: sorte, mais nada. Mas orótulo de ‘’clarividente’’ já aparecia na sua testa, e o episódio da Union Pacific só fez colá-lo mais forte.Houve momentos na sua vida em que, realmente, tentou acabar com isto. Geralmente acontecia quando a suasorte, ou ‘’clarividência’’, o abandonava, o que, mais cedo ou mais tarde, a sorte sempre acaba por fazer.Quando estava quebrado, ou quase, parecia dar-se conta de que vinha dependendo demais da sua supostacapacidade de prever o futuro, e aí tratava de convencer-se, e aos outros, de que ele era melhor especulador queclarividente.A última vez que isto aconteceu foi em 1940. Livermore quebrara em 1934, juntara uma nova fortuna e agoraestava a caminho de perdê-la de novo. Numa aparente tentativa de provar que especulava usando um sistemaracional, e não mágico, ele escreveu um curioso livrinho, publicado em 1940, chamado How to Trade in Stocks -the Livermore Formula for Combining Time Element and Price (‘’Como Operar com Ações - a FórmulaLivermore de Combinar e Elemento Tempo e Preço’’).O livro merecia os aplausos do professor Irving Fisher, o tal que entrara pelo cano, em 1929, achando queenxergava padrões de comportamento na Bolsa de Valores. Livermore escreveu um hino aos padrões. Era cheiode gráficos e de referências a ‘’Pontos Altos’’, ‘’Reações Secundárias’’, e outras coisas do gênero.Uma perfeita tolice. Qualquer um que tentasse operar no mercado seguindo as suas instruções acabaria namaior confusão e, provavelmente, quebrado. A menos que tivesse muita sorte, é claro. O livrinho não provavanada, a não ser o enorme desejo de Livermore, a essa altura da vida, de ficar o mais longe possível da história daclarividência.Talvez tentasse, no fim da vida, inventar um sistema especulativo que combinasse gráficos comclarividência. Era capaz de funcionar ainda pior do que quando se baseava num de cada vez. Uma tarde, emdezembro de 1940, Jesse Livermore apareceu no Hotel Sherry-Netherland, em Nova York, tomou dois oldfashioneds,entrou no banheiro e se matou com um tiro.Naturalmente, nunca é possível saber-se, exatamente, por que alguém resolveu acabar com a própria vida.Mesmo que tenha deixado um bilhete - não foi o caso de Livermore -, as pessoas ficam se perguntando quaisforam as razões verdadeiras e o que são apenas explicações fáceis. Jesse Lauriston Livermore foi um homemcomplicado, de vida complicada, e é possível que o seu suicídio tenha sido motivado por problemas sobre osquais nada sabemos.- Havia vinte Livermores diferentes - diria Frank Henry, com tristeza. - Só conheci um deles.Ainda assim, realmente parece que dificuldades nos negócios faziam parte da carga sob a qual ele cedeu. Agrande obsessão da sua vida foram as especulações. No momento em que ele tomava o seu segundo oldfashionedno bar do Sherry-Netherland, pela quarta vez na vida as finanças de Livermore estavam em grandeconfusão. Pela quarta vez na vida ele se via confrontado com uma penosa verdade: o seu método especulativoera falível. Sua vidência não era, nem de longe, clara como ele teria gostado. Se se baseava nos seus supostosdons proféticos, estes não tinham funcionado.Nada disto significa que você corre o risco de um fim trágico como o de Jesse Livermore. A história dele éapenas uma bizarra ilustração de como crenças ocultas podem perturbar um sólido raciocínio especulativo.Apoiar-se nessas crenças pode não representar risco para a sua saúde; para a do seu dinheiro, com toda certeza.12º AXIOMA MENORSe astrologia funcionasse, todos osastrólogos seriam ricos.Este axioma menor, aparentemente, pega no pé da astrologia, mas é só porque na América, como no resto domundo ocidental, a astrologia é a mais popular das crenças ocultas. Uma recente pesquisa Gallup mostrou que32milhões de americanos adultos acreditam em astrologia, e muitos mais são leitores ocasionais de horóscopos dejornais e revistas. Outras disciplinas ocultístas, como feitiçaria e tarô, admitem menores números de fiéis. O 12ºaxioma menor se dirige tanto a eles como aos adoradores dos astros.A proposta aqui oferecida à sua consideração é a seguinte: se você se sente atraído pela astrologia, ou porqualquer outra doutrina mística ou sobrenatural, então mergulhe de cabeça na sua substância e espírito. Divirtase,torne-a parte da sua vida, faça o que quiser. Porém, antes de tentar utilizá-la para ganhar dinheiro, preste a simesmo um favor. Dê uma olhada nos praticantes dessa doutrina, especialmente nos que afirmam serem os seusmestres, sacerdotes ou gurus, e faça uma única pergunta: Eles estão ricos?Se não estiverem nem mais nem menos ricos do que qualquer outro grupo humano escolhido ao acaso, vocêjá aprendeu um fato útil. Por mais que as doutrinas ocultistas possam fazer pela sua paz interior etc., o que elasnão farão é aumentar o seu saldo bancário.Conforme descobrirá, astrólogos e seguidores da astrologia, como grupo, não são nem mais nem menos ricosdo que ninguém. O mesmo se aplica a quem acredita em tarô, poderes da mente ou qualquer outro sistemamístico, pseudocientífico ou religioso. No que se refere a dinheiro, andam tão no escuro, aos tombos, quantoqualquer um. Alguns são ricos, alguns são pobres. A maioria se acha no meio-termo. Quase todos gostariam deser mais ricos. Por outras palavras, não são melhores nem piores que ninguém: são iguais.Como a maior parte dos pastores, padres e rabinos das grandes religiões, alguns gurus ocultistas lhe dirão queo negócio deles não é ajudá-lo a enriquecer. Freqüentemente, isto não passa de pretexto; quando é autêntico,porém, merece os nossos aplausos. Mas muitos gurus prometem ajuda em questões de dinheiro. A maioria doshoróscopos, também. Toda hora a gente lê: ‘’Peixes. O período de 3 a 10 de junho é auspicioso parainvestimentos...’’Se pedir aos propagadores dessas doutrinas místicas que lhe provem que se pode ganhar dinheiro com elas,geralmente conseguem provar. Isto é o que torna essas doutrinas perigosamente tentadoras. Como os profetasque estudamos no 4º Grande Axioma, todo ocultista praticante é capaz de contar a história de um golpe de sorte.Algumas são realmente espantosas. Se tiver um amigo ou conhecido que acredite em ocultismo, ele é capaz deencher a sua cabeça de ‘’provas’’ e você acaba achando que talvez, quem sabe... Mas, agüente a mão no seuceticismo e no seu bolso. As histórias que ouvirá não são diferentes da fantástica aventura de Jesse Livermorecom a Union Pacific. Não provam que uma determinada visão mística é capaz de gerar dinheiro. Provam apenasque quem passa um bom tempo especulando, um dia acerta na mosca, possivelmente em circunstâncias muitoestranhas.Eu mesmo já tive dessas experiências. A mais engraçada ocorreu com um baralho de tarô.Interessei-me por tarô há muitos anos, quando uma revista me encomendou um artigo sobre a história dosjogos de cartas. Apurei que o nosso conhecido baralho de 52 cartas, com o qual jogamos bridge, pôquer etc., édescendente direto do baralho de tarô, de 78 cartas. O tarô foi criado para adivinhar o futuro, não para jogos, masalguma coisa chamou minha atenção. Tornei-me superficialmente capaz de ler tarô. Um bom meio de animarfestas chatas.Nas minhas pesquisas, inevitavelmente, topei com histórias envolvendo dinheiro. Muitas das adivinhações dotarô têm a ver com riqueza e pobreza, de forma que a coisa se presta bem a histórias de dinheiro. Uma dasmelhores me foi contada pelo pessoal da Godnick & Son, corretora de Wall Street, grande especialista emoperações a termo.Certo dia, um camarada muito mal vestido apareceu nos escritórios da Godnick em Beverly Hills, querendocomprar Control Data a termo. Trazia um cheque de pouco menos de 5.000 dólares, em seu nome, de umacaderneta de poupança local. Evidentemente, acabara de encerrar a sua conta. Com base em vários indícios,Marty Tressler, gerente da Godnick na Califórnia, deduziu que aquele dinheiro era tudo que o homem tinha navida. Preocupado, fez várias perguntas ao estranho cliente.Tinha certeza de querer arriscar todo o dinheiro? O homem disse que sim, tinha certeza. Tudo no mesmopapel? Exato. Mas, pelo amor de Deus, por que Control Data? Nesse tempo, a empresa não atraía grandesatenções em Wall Street. Achavam que tinha problemas graves, e que levaria anos a consertá-los. Quando havianegócios, o que não era freqüente, a ação andava pelos 30 dólares. Diante de Control Data, a reação típica de umespeculador, depois de rápida olhada, era mais ou menos a seguinte:- É, um dia pode ser interessante. Quem sabe, daqui a um ano a gente olha de novo?O cliente de Marty Tressler, porém, não tinha a menor dúvida quanto ao que queria: Control Data, Tresslercontinuou perguntando por quê? Finalmente, o homem balbuciou qualquer coisa sobre tarô.As cartas tinham lhe passado uma dica quente. Mesmo correndo o risco de perder o negócio. Tresslercontinuou argumentando com o homem, que não se deixava abalar. Insistia em pôr tudo num termo de ControlData. Cheio de relutância, Tressler recebeu os 5.000 dólares, e desejou-lhe boa sorte.Passados seis meses, devido a fatores que não podiam ter sido previstos por nenhum método racional,Control Data era um dos papéis mais quentes do mundo, negociado a mais de 100 dólares. O estranho clienteapareceu e disse que queria liquidar a sua posição. Recebeu um cheque de pouco mais de 60.000 dólares. Emseis meses tinha multiplicado o seu capital em mais de uma dúzia de vezes. Pegou a grana, disse até logo e nuncamais foi visto pela Godnick & Son.Um espanto, não é verdade? Mas a história não acaba ai. Entro eu nela.Até aqui, o caso me foi contado por Bert Godnick, o & Son da corretora, num restaurante perto de WallStreet. Ouvi tudo com o maior interesse porque, por acaso, eu era dono de algumas centenas de ações da ControlData.Eu não fora presciente como o leitor de tarô de Marty Tressler. Não comprara as minhas ações a 30 dólares.Quando embarquei já andavam pelos 60, a animação era grande à volta delas, e eu achava que ainda ficariamaior. Meu palpite estava certo. A cotação continuou a sua louca escalada. No dia do meu encontro comGodnick, dera um pulo enorme, parando um pouquinho abaixo de 120 dólares, que eu estipulara como minhaposição de saída.Conversamos sobre tarô e sobre Control Data. Godnick não se entusiasmou quando lhe disse que pensavaliquidar a minha posição quando o papel batesse 120. Velho especulador, ele sabia tudo sobre liquidação deposições, mas achava que, no caso, eu deveria abrir uma exceção. Seu palpite era de que Control Dataprosseguiria quente ainda por vários meses. O papel subiria muito mais. Conversamos a respeito. De brincadeira,ele finalmente sugeriu que, se eu não tivesse certeza, consultasse o meu baralho de tarô.Também brincando, foi exatamente o que fiz, no dia seguinte.Existem várias maneiras de se obter ‘’orientação’’ de um baralho de tarô. Uma delas é formulando umapergunta direta: ‘’O que devo fazer a respeito disto assim-assim?’’ Ou: ‘’Quais são as perspectivas disto assimassado?’’Embaralha-se, então, colocam-se as cartas da maneira prescrita, e elas são estudadas. Supostamente, aresposta está contida na ordem em que as várias figuras e naipes aparecem, e se estão de cabeça para cima. (Aocontrário dos baralhos modernos, as cartas de tarô têm parte de cima e parte de baixo.)Procedi como mandam as regras do tarô e fiz a minha pergunta sobre as perspectivas da Control Data. Notarô, as respostas costumam ser meio equívocas, cheias de ‘’talvez...’’, ‘’quem sabe...’’, ‘’por outro lado...’’ Parasurpresa minha, a que recebi não tinha talvez. Foi direta, dizendo que o futuro da Control Data era glorioso,impecável. Eu nunca vira uma disposição de tarô tão segura do que queria dizer.Frank Henry teria morrido de vergonha de mim. Em toda a minha vida, eu jamais permitira que religião ouocultismo interferissem nos meus assuntos financeiros. E somente umas poucas vezes, até então, eu rompera umcompromisso que assumira comigo mesmo: sair de um jogo uma vez atingido o ponto de saída. Mas eu foraapanhado pelo tarô. A ação bateu 120 e, em vez de vender, fiquei só olhando.Em minha defesa, devo dizer que não fiquei amarrado à previsão do tarô, a ponto de adormecer sonhando.Continuei cultivando as minhas sadias preocupações, pronto a pular fora ao primeiro sinal de crise. Durantesemanas, porém, nada de sinal. O papel maluco subiu sem parar e bateu 155 dólares.A essa altura, eu estava realmente preocupado. Quando você ultrapassa a posição de saída e não sai, passa ater a sensação de que gigantescos elásticos o estão puxando para trás. Quanto mais você anda, mais eles parecemesticados. Quando o papel chegou a 155, tornei a pôr as cartas.Desta vez, a leitura foi catastrófica. As cartas diziam que mudanças violentas e imensas infelicidades vinhampela frente. Imediatamente, fiz o que sempre quisera fazer: mandei vender.O papel foi indo, se arrastando, bateu 160 e daí mergulhou. Para quem ficou segurando, uma catástrofe. Ondaapós onda de ordens de venda foram derrubando o preço, uma desencadeando a seguinte. Quando cessou opânico, uns nove meses depois, Control Data era negociada a 28 dólares.Salvo pelo tarô!Será? Com o tempo caí na real. Não existe a mais mínima prova de que a minha sorte tenha sido produto dequalquer qualidade mágica das cartas. O que aconteceu, na verdade, foram dois bons golpes de sorte.Realmente, seria bobagem, no futuro, depender de sorte igual, sob circunstâncias semelhantes. Até talesperança seria loucura: poderia me levar, sem escalas, ao desastre financeiro. Tendo compreendido isto,imediatamente recuei e afastei-me da ilusão ocultista que quase me envolvera. Guardei o meu baralho de tarô,jurando não tornar a pôr as mãos nele, a não ser em festas, para divertir o pessoal. Mantive a jura. Com o tempo,até em festas a coisa ficou sem graça. Perdi o interesse pelo tarô, e já nem sei onde foi que guardei aquelebaralho danado.Se astrologia funcionasse, diz o nosso 12º Axioma Menor, todos os astrólogos seriam ricos. O mesmo valepara o tarô. Qualquer um pode acertar uma ou duas, mas o teste verdadeiro para qualquer hipótese de se ganhardinheiro é se funciona sempre. Depois da aventura da Control Data, se eu ainda tivesse dúvida em rejeitar aajuda oculta, pouco tempo depois já não tinha mais.Certo dia, em Nova York, fui almoçar com um autoproclamado mestre do tarô. O convite era dele. Vivia deler tarô, da venda de baralhos e de um manual de instruções. Sabedor que eu andava pensando em escrever maissobre o assunto, achou que era uma chance de obter divulgação. Por mim, tudo bem. era um tipo interessante.Garantia que o tarô era um dos melhores meios do mundo de se atingirem objetivos financeiros.Terminado o almoço, o garçom trouxe a conta. O mestre do tarô fez que não viu. Finalmente, acabei pagandoa despesa. Ele sorriu e disse:- É por conta da firma, não é mesmo?Na verdade, na época eu não trabalhava para firma nenhuma, mas, tudo bem. Só que, ao sairmos dorestaurante, na calçada, as coisas ficaram mais engraçadas ainda. Explicando que, temporariamente, estava com‘’um pequeno problema de caixa’’, o mestre do tarô me tomou 5 dólares para o táxi!Nunca mais botei os olhos nele, nem nos meus 5 dólares. Mas não me queixo pelo dinheiro. Entrou comodespesa de educação.13º AXIOMA MENORNão é necessário exorcizar uma superstição.Podemos curti-la, desde que ela conheça o seu lugar.A maioria de nós carrega consigo algumas superstições. Mesmo que não sejamos devotos em tempo integralde alguma linha ocultista como a astrologia, andamos sempre com amuletos e temos aversão ao 13. Conforme jávimos, qualquer crença religiosa, mística ou supersticiosa pode representar grave risco a quem quiser ficar rico.Porém, se você tem algumas dessas crenças, inteira ou pela metade, não há a menor necessidade de embarcarem nenhum trabalhoso programa para livrar-se dela. De qualquer forma, esses programas não dão certo. Se nãogosta de passar embaixo de escadas, não gosta e pronto. Em vez de tentar exorcizar isto, o que tem que fazer édescobrir como e quando esse dado pode desempenhar um papel razoável na sua vida financeira.Será um papel absolutamente menor, trivial. Porém, você realmente gosta desse seu lado místico, ou quasemístico, e ao menos poderá mantê-lo como uma espécie de bichinho de estimação.A partir daqui, de tempos em tempos usarei a palavra ‘’superstição’’. Sem sarcasmo ou reprovação. O quepara mim é superstição pode ser religião para você, e vice-versa. Conforme usado aqui, ‘’superstição’’ quer dizercrença num sobrenatural, não partilhada por todo mundo.Existe um modo de permitir que uma superstição invada a sua vida financeira, e existe um tempo certo defazê-lo. Um de cada, e somente um. Todos os demais modos e tempos podem levá-lo ao desastre.O modo de fazê-lo é rindo.O tempo de fazê-lo é quando se encontra numa situação que não se presta, de modo algum, à análise racional.Exemplo: escolher um número para comprar um bilhete ou jogar no bicho. Qualquer um serve, são todosiguais. Não há análise a fazer. Nenhum volume de cogitação lhe dará a mais microscópica vantagem sobre osdemais jogadores. O resultado será determinado por pura sorte. Já observamos a imensidão do papel que a sortedesempenha em outras situações envolvendo dinheiro - a Bolsa de Valores, por exemplo. Mas, pelo menos aítemos uma oportunidade de pensar um pouco, de usar um pouco a cabeça, a intuição na luta por vantagensespeculativas. Nos jogos onde só nos cabe escolher um número, nem isto.O que fazer então? Só há uma coisa a fazer: relaxar. Divertir-se um pouco. Ponha um sorriso nos lábios - éimportantíssimo jamais levar nada disso à sério - e deixe a sua superstiçãozinha tomar conta do negócio.Charles Keliner, de Hillsdale, Nova Jersey, é um que transa esta numa muito boa. O seu dinheiro está emimóveis, num restaurante e em outros negócios. No que se refere a isto, não há superstição que entre nas suascogitações. Quando compra bilhetes de loteria, porém, baseia-se em algo que, às gargalhadas, admite ser muitoestranho: em palpites sonhados.Na loteria de Nova Jersey, você tem que acertar um número de três dígitos. O bilhete custa 50 cents, oprêmio é de 500 dólares. Havia algum tempo que Kellner, sem sucesso, vinha comprando bilhetes. Uma noite, onúmero da sua casa, 283, apareceu na trama do seu sonho e, ao acordar, ficou na sua cabeça. Não soube explicarpor que. Não era nenhum número especial para ele. De brincadeira, naquele dia comprou o número na loteria e,louvados sejam os astros, faturou 500 dólares.Poucas semanas depois, tornou a sonhar, desta vez com a mãe. De novo só de brincadeira, no dia seguinteapostou no número da casa onde ela morava. Ganhou de novo.- Ele é o sonhador dos três dígitos - diz Dolores, sua mulher. - Eu vou é enchê-lo de comprimidos paradormir. Dormindo, ganha mais por hora do que jamais ganhou acordado.Charles Kellner se diverte demais com os seus palpites noturnos. Desempenham um papel absolutamenteinconseqüente na sua vida financeira. Ele deixa que tais palpites se intrometam somente quando está jogando, eapenas em situações que não permitem, absolutamente, qualquer cálculo racional.Não sendo supersticioso, Charles não acredita que realmente possua qualquer habilidade mágica de gerarsonhos proféticos. Mas, mesmo que acreditasse, ainda que tivesse a remota idéia de que isto pudesse ser verdade,não faria a menor diferença nas suas finanças. Usando a sua superstição do modo certo, na hora certa, ele sediverte e livra-se dela.Estratégia EspeculativaVamos dar uma revisada no 8º Grande Axioma. O que tem a dizer sobre dinheiro, religião e ocultismo?Basicamente, diz que dinheiro e o sobrenatural fazem uma mistura perigosa, que pode explodir na sua mão.Mantenha os dois mundos bem separados. Não há a menor prova de que Deus se interesse pelo seu saldobancário; tampouco existem indícios de que alguma crença ou prática ocultista tenha produzido, de formacoerente, bons resultados financeiros para os seus devotos. O máximo que já aconteceu foi alguém, ocasional eisoladamente, acertar uma vez na mosca. Isto costuma chamar muita atenção, mas só prova que golpes de sorteacontecem.Esperar ajuda de Deus, do oculto ou de poderes mentais é não apenas inútil, é perigoso. pode acabar por leváloa um estado de graça, sem preocupações, o que, conforme já vimos, é um péssimo estado para umespeculador. Zelando pelo seu dinheiro, parta do princípio de que está absolutamente só. Apoie-seexclusivamente nos seus próprios talentos.

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