quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O 5º Grande Axioma: DOS PADRÕES

O 5º Grande Axioma:DOS PADRÕES

Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso.Irving Fisher, famoso professor de economia de Yale, fez uma fortuna na Bolsa. Impressionados com acombinação de credenciais acadêmicas impecáveis e conhecimentos práticos de investimentos, muita gentecoreu a pedir seus conselhos.- Os preços das ações parecem ter atingido um patamar permanentemente alto - disse ele em setembro de1929, pouco antes de sair quebrado da maior débâcle jamais vista em Wall Street.É isso aí. No momento em que você começa a acreditar ter enxergado um padrão de ordem nos assuntos queenvolvem seres humanos, inclusive nos assuntos financeiros, está correndo risco.Fisher acreditou que, por sua esperteza, havia derrotado o mercado, quando tudo não passava de pura sorte.Acreditava ter enxergado padrões em meio ao caos. Acreditando nisso, acreditou ser possível criar fórmulas eestratégias para a exploração desses padrões; mais até: acreditou ter, realmente, descoberto essas fórmulas eestratégias.Coitado do velho Fisher. Quis a sorte que por um instante ele voasse mais alto, para maior ser a sua queda.Durante uns poucos anos, os fatos pareceram confirmar a sua ilusão de ordem.- Vejam! - dizia ele, - justamente como eu previ. A Bolsa se comporta exatamente como eu calculei que secomportaria.E de repente... pimba! O fundo pareceu se abrir, e o mercado veio abaixo. Aferrado à sua ilusão de ordem,Fisher não estava preparado para o fim do período de sorte. E lá se foram, ele e uma multidão de outrosinvestidores desorientados, aos trambolhões cano abaixo.A armadilha em que o professor Fisher foi apanhado - a ilusão de ordem - pegou milhões de outros, econtinuará pegando investidores, especuladores e jogadores por toda a eternidade. Não é só nas esquinas de WallStreet que ela os desprevenidos; é também em galerias de arte, corretoras de imóveis, cassinos e leilões deantigüidades. Onde quer que se arrisque e se perca dinheiro. A ilusão é mais que compreensível. Afinal decontas, onde é que se encontra mais ordem que no dinheiro? Por mais que o mundo se descabele, quatro vezes 25cents sempre somam um dólar. O dinheiro parece frio, racional, submisso à análise racional e a manipulações.Para ficar rico, parece suficiente encontrar um enfoque sólido e racional: a Fórmula.Todo mundo está atrás dessa Fórmula. Infelizmente, ela não existe.A verdade é que o mundo do dinheiro é um mundo desordenado, sem nenhum padrão de comportamento, umabsoluto caos. De vez em quando parecem formar-se padrões ou desenhos, como num céu de nuvens ou naespuma do mar que quebra a praia. Mas são efêmeros. Não constituem base sólida sobre a qual se possa erguerum plano. São atraentes, mas estão sempre enganando pessoas espertas como o nosso professor Fisher. Oespeculador realmente esperto, porém, percebe, sabe do que se trata, e passa ao largo.Esta é a lição do 5º Grande Axioma. É possível que seja o Axioma mais importante. É o Axioma Imperial.Tendo-o absorvido, você será um especulador/investidor mais competente do que o professor Fisher jamais foi,com todos os seus montes de títulos universitários. Só este Axioma, uma vez entranhado em você, será suficientepara separá-lo do rebanho, afastá-lo da vala comum dos perdidos, dos perdedores cheios de esperanças vãs.Em matéria de ordem, algumas das maiores ilusões se encontram no mundo das artes. Este é um mundo ondese pode ganhar uma fortuna com espantosa rapidez. O segredo é se apegar aos artistas baratinhos, antes que elescriem fama. Como Louise Moillon, por exemplo, uma pintora francesa do século XVII. Há pouco tempo, numleilão no interior, uma mulher pagou 1.500 dólares por um quadro dela. Um ano depois Louise Moillon entrou namoda, e a mesma tela foi vendida em Nova York por 120.000 dólares.Isto é o que se chama uma especulação bem-sucedida, algo que poderia ser um bom impulso nas finanças dequalquer pessoa. Mas, por onde é que se entra nessas coisas? Como é que se vai dizer que, de repente, um artistaobscuro virará o centro das atenções?Bem, existem especialistas que garantem ter resolvido essas questões. Enxergam padrões que ninguém maisenxerga. Têm fórmulas. São capazes de reconhecer Arte com A maiúsculo antes de o resto do mundo jogar ospreços lá no alto. São capazes de entrar num leilão lá onde Judas perdeu as botas, onde está todo mundo seesbarrando no escuro, e exclamar:- Pô! Olhe só isto aqui! Em Nova York vale mais de 100.000 dólares!O negócio, então, é consultar um batalhão desses especialistas, não é verdade?Certo. Nesses moldes é que foi criado o Fundo Soberano da Arte Americana. Basicamente, tratava-se de umfundo mútuo que se propunha a enriquecer seus acionistas comprando e vendendo arte. Compras e vendas seriamexecutadas por especialistas, profissionais experimentados cujo senso crítico superior os ajudaria a identificar astendências nascentes e as futuras Moillons, antes que o resto do mercado de arte as farejasse.Eis uma belíssima ilusão de ordem. Atraiu investidores de todos os portes. O fundo foi aberto ao público a 6dólares a cota, e vendeu todas. Não sobrou uma.O que ninguém parece ter se dado conta é que, num jogo delicado como o do mercado de arte, um grupo deprofissionais pode amargar a mesma falta de sorte que um bando de atabalhoados amadores. O fundo entroucomprando obras-primas que pareciam prometer. Alguns meses depois do lançamento, suas cotas eramnegociadas a mais de 30 dólares. Pelo menos alguns dos especuladores originais conseguiram ganhar algumacoisa. Mas logo veio vindo o desânimo. As obras adquiridas não eram tão primas como pareciam à primeiravista. Artistas obscuros foram ficando mais obscuros. Uma tela cara foi apontada como falsificada. O valor dascotas despencou. Dois anos depois de inaugurado o fundo, elas eram oferecidas a 75 cents.Os fundos mútuos de Wall Street contam histórias parecidas. Ilustram com fria clareza a futilidade de seprocurarem padrões no caos - e, principalmente para o especuladorzinho médio, os perigos.Examinemos a aparentemente infinita promessa dos fundos mútuos. Esses grandes aglomerados de dinheirodo público são administrados por profissionais de primeira. São espantosas as proezas universitárias desseshomens e mulheres, assim como os seus salários. As necessidades deles são atendidas por multidões deassistentes. Têm à disposição imensas bibliotecas especializadas em fatos e teorias financeiras. Suas cogitaçõessão movidas a computadores e outros custosos equipamentos. Sem sombra de dúvida, são os teóricos deinvestimentos que mais estudaram, os mais bem pagos e equipados do mundo.Assim, se em meio à desordem fosse possível discernir um padrão usável e criar uma fórmula para se jogarno mercado que funcionasse, esse seria o pessoal para fazê-lo. Na realidade, deveriam tê-lo feito há muito tempo.Até agora, porém, essa fórmula lhes vem escapando.O mais triste é que os fundos mútuos são especulações como outras quaisquer; seus administradores às vezesganham, outras vezes perdem. É o máximo que se pode dizer sobre eles. Todos aqueles cérebros de altavoltagem, todo aquele dinheiro e todos aqueles computadores não foram capazes de torná-los mais espertos nemmais bem-sucedidos que o especulador solitário, que opera apenas com a sua dor de cabeça e uma calculadorabarata. Na realidade, como grupo, às vezes os fundos mútuos conseguem ter um desempenho pior que a média.Certa vez, a revista Forbes fez um gráfico com a performance dos preços das cotas dos fundos em mercados embaixa, e apurou que 90% deles caíam tão rápido quanto os das ações de modo geral, ou mais rápido ainda.Apesar de tudo, os administradores de fundos prosseguem, teimosamente, na busca dessa fórmula mágica.Buscam, porque são pagos para isto; além do mais, em muitos casos, talvez na maioria, continuam buscandoporque realmente acreditam que, em algum lugar, há de haver essa fórmula, que é apenas questão de seuscomputadores serem espertos o bastante para darem com ela.Você e eu, naturalmente, sabemos que a razão pela qual não acham a fórmula é só uma: ela não existe.Sim, sem dúvida, você é capaz de ganhar dinheiro investindo num fundo mútuo - se tiver a sorte de escolhero fundo certo na hora certa. O fato é quem adquire cotas de um fundo mútuo corre os mesmos riscos de quemcompra ações isoladamente, ou obras de arte, ou seja lá o jogo em que prefira apostar.No ano seguinte, alguns administradores de fundos de ações terão mais sorte; outros menos. Alguns serão os‘’quentes’’, Os valores das suas cotas subirão mais depressa, ou cairão mais devagar do que a média. O diabo édescobrir: quais?De forma que retornamos à estaca zero. Se preferir especular em cotas de fundos, estará operando no mesmocaos que encontraria se estivesse especulando diretamente com ações, arte, mercadorias, moedas, metaispreciosos, imóveis, antigüidades ou rodas de pôquer. Para você, as regras do jogo têm de ser as mesmas, seja elefundos mútuos ou qualquer outra coisa. Especialmente no caos dos fundos, não se deixe levar pela ilusão de queexiste ordem onde não há nenhuma. Mantenha a cabeça fria e os Axiomas bem à mão.Mantenha-os sempre à mão quando ler ou ouvir conselhos sobre investimentos. Os conselheiros, na suamaioria, têm à venda algum tipo de ‘’ilusão de ordem’’, porque é isto que vende.São ilusões reconfortantes e cheias de promessas. Investidores modestos, pessoas que já saíram chamuscadasou acham que por ignorância ou medo perderam oportunidades (e quem não acha?), fazem fila à porta de umconselheiro que ofereça uma fórmula plausível, ordenada, de se ganhar dinheiro. Mas você deve encarar comceticismo qualquer um desses conselheiros. Quanto mais seguro, quanto maior for sua aparência de banqueiro,mais se deve desconfiar, pois mais longe estará o sujeito de admitir que o negócio dele é o caos, que jamaisconseguiu se entender ali, nem espera conseguí-lo, e, como todo mundo, tem que correr os seus riscos.Alfred Malabre Jr., um dos editores do Wall Street Journal, é um especulador que aprendeu direito a sualição. Preparando-se para uma longa estada no exterior a serviço, Malabre procurou quem o ajudasse com osseus investimentos. Queria uma pessoa prudente e competente para tomar conta da sua carteira de açõesenquanto estivesse fora. Não era lá uma carteira muito grande, mas, lógico, ele queria que ficasse protegida.Caso o mercado despencasse ou algo parecido acontecesse enquanto estivesse fora, Malabre queria ter alguém apostos para liquidar os seus papéis, ou tomar a iniciativa que se fizesse necessária.Saiu procurando. No seu livro Investing for Profit in the Eighties (‘’Investimentos e Lucros nos Anos 80’’),conta que seu olho bateu no First National City Bank of New York, hoje conhecido por Citibank. Como amaioria dos seus concorrentes, o Citibank oferecia um serviço de administração de carteiras de ações. Se vocêtivesse um capital e não quisesse operar sozinho, jogando com ele, ou se estivesse temporariamente impedido defazê-lo - como era o caso de Malabre -, colocava seu dinheiro nas mão do banco, que o arriscaria por você. Emtroca de uma remuneração, naturalmente.‘’Bem, está resolvido’’, pensa Malabre. ‘’Parece uma boa solução para o meu problema. Afinal, estouescolhendo o Citibank, um dos dez ou quinze maiores bancos na face da Terra. O que esses caras não souberema respeito de dinheiro provavelmente não vale a pena saber. Não posso estar errado em entregar essa minhamixaria nas mãos deles. Onde vou encontrar uma custódia financeira de gente mais confiável, mais prudente,mais esperte? Com toda certeza, enquanto eu estiver fora eles não vão perder um centavo do meu dinheiro.Talvez até me façam ganhar uma fortuna!’’Foi isto que Malabre pensou.Estava padecendo de uma perfeitamente compreensível ilusão de ordem. Onde é que se poderia encontrarmais ordem do que num gigantesco banco de Nova York? Um operador solitário, desorientado, é capaz de ir, vir,ficar dando voltas, e acabar transformando uma rica carteira em pó; um grande banco, nunca. Um banco dessesdeve ter as suas fórmulas trancafiadas em cofres-fortes. Sempre sabe o que fazer.A conseqüência: os banqueiros por pouco não levaram Malabre à falência. Compraram-lhe um pacote deAvon Products ordinárias a 119 dólares; passados dois anos, estavam a menos de 20. Entupiram-no com Sears a110, e ficaram olhando até bater 41, 50. Compraram IBM a pouquinho menos de 400 dólares, e ela foi parar em151. Somente medidas drásticas, tomadas pelo próprio Malabre, evitaram a catástrofe.O que dói ensina. Tão cedo Malabre não esquecerá a lição do Citibank. Você, porém, pode aprender a mesmalição, sem dor, sem se machucar. E a lição é a seguinte: cuidado com qualquer especialista em aconselhamentoque, observando o panorama financeiro, afirma enxergar outra coisa que não o caos. Quanto mais ordenado opanorama parecer ao conselheiro ou conselheira, menos esse senhor ou senhora merece a sua confiança.Quando deposita a sua confiança numa ilusão de ordem, você está se ninando para um perigoso sono.Nenhum dos Axiomas de Zurique diz, especificamente, que você tem de ficar de olhos abertos, mas anecessidade está implícita em todos eles. Não cochile, pois pode acordar com o seu dinheiro entrando pelo cano.Se estiver a fim de passar uma tarde divertida e instrutiva, observando como se constróem ilusões de ordem,passe numa livraria e dê uma espiada nesses livros que ensinam a ficar rico de um dia para o outro. Qualquerlivrariazinha tem uma porção deles. Encontrará uma ampla variedade de opções de investimentos, talvez atéalgumas que lhe agradem bastante. Como enriquecer com imóveis. Como faturar alto com moedas raras. Comofazer fortuna com filatelia, títulos públicos, debêntures, prata, ouro... a lista não acaba.Preste atenção numa característica desses livros. A maioria é escrita por gente que afirma ter acumuladofortuna pessoal com o esquema ali descrito. Um título típico seria Como Engordei Meu Capital Com Carne dePorco, que, no caso, significaria ‘’como aumentei meu capital negociando com carne de porco na bolsa defuturos’’.Estarão esses conselheiros falando a verdade? Sim, pode-se dizer que, à maneira deles, estão.Não há por que ser desnecessariamente cínico a respeito. Em quase todos os casos, podemos presumir que osrelatos são autênticos. Contudo, o que não somos é obrigados a nos deixar envolver na ilusão de ordem do autor.Ele acredita que ficou rico por ter encontrado a fórmula verdadeira. Mas nós estamos sabendo: ficou ricoporque deu sorte.Se você estiver em maré de sorte, qualquer arremedo de esquema o fará ganhar dinheiro. Na maré contrária,não há um sequer que funcione. Alguns desses conselheiros admitem - assim como os Axiomas de Zurique - oimportantíssimo papel da sorte. Aliás, os Axiomas não apenas o admitem, eles se baseiam em que, isoladamentea sorte é o dado mais poderoso no sucesso ou fracasso de qualquer especulação.A maioria dos ‘’especialistas’’, porém, ignora a sorte, faz de conta que ela não existe, ou a menciona o maisde passagem possível. Como os banqueiros do Citibank e os administradores do Fundo Soberano de ArteAmericana, o negócio deles é vender um elixir milagroso: um sistema ordenado, uma sensação de exercer ocontrole. Vá por mim, meu filho, não tenha receio, eu conheço o caminho das pedras. Foi por aí que enchi osbolsos. É só seguir essas dicas bem simplesinhas, passo a passo...Tudo bem. Se quiser, pode seguir - talvez até o seu juízo final financeiro. O caso é que a fórmula que deucerto ano passado não é obrigada a dar certo este ano, com um diferente conjunto de circunstâncias financeirasfervendo no caldeirão. Nem a fórmula que funcionou para o seu vizinho funcionará, necessariamente, para você,diante de uma série de casuísmos totalmente diferentes.O fato é que não se pode confiar em nenhuma fórmula que ignore o papel dominante da sorte. Esta é aimportante verdade do 5º Grande Axioma. E a verdade nos liberta.O que assinala o papel da sorte não é apenas a possibilidade de esses conselheiros estarem espetacularmenteerrados; é, também, o fato de que, freqüentemente, vamos topar com dois desses sábios dando conselhosdiametralmente opostos sobre o mesmo tema. Aqui na minha estante, por exemplo, tenho dois livros: How WallStreet Doubles My Money Every Three Years (‘’Como Wall Street Dobra o Meu Dinheiro a Cada Três Anos’’),de Lewis Owen, e The Low High Theory of Investment (‘’A Teoria Baixa-Alta de Investimentos’’”), de SamuelC. Greenfield.Owen diz que devemos comprar ações cujos preços estejam em baixa há um ano ou quase isso. A ilusão deordem de Greenfield assegura que os preços vivem numa gangorra, de forma mais ou menos previsível. Assim,um papel cujo preço se aproxima do fundo do poço não tardará a subir.Não é possível que ambos os sábios estejam certos. O fato é que os dois estão errados.A verdade é a seguinte: o preço de uma ação, ou de qualquer coisa que se compre visando lucro, subirá setivermos sorte.5º AXIOMA MENORCuidado com a armadilha do Historiador.A Armadilha do Historiador é um tipo especial de ilusão de ordem. Baseia-se na crença, antiquíssima etotalmente sem fundamento, de que a história se repete. Quem acredita nisto - talvez 99 de cada 100 pessoas naface da Terra - como corolário acredita que a repetição ordenada da história permite, em determinadascircunstâncias, previsões corretas.Sendo assim, suponhamos que, no passado, em determinado momento, ocorreu o Evento A, que foi seguidodo Evento B. Passam-se alguns anos, e testemunhamos a repetição do Evento A.- Ah-ah! - diz quase todo mundo. - Aí vem o Evento B!Não é assim que a banda toca. Não caia nessa. Às vezes a história se repete, é verdade; com grandefreqüência, porém, não se repete. Mesmo quando a repetição ocorre, jamais é de forma confiável a ponto de vocêpoder apostar prudentemente o seu dinheiro.Geralmente, as conseqüências da Armadilha do Historiador não costumam ser graves. ‘’Se estiverem à frenteno terceiro tempo, ganham o jogo.’’ ‘’Toda vez que a gente combina se encontrar para um drinque, ela arranjaum problema no escritório e chega atrasada.’’ ‘’Ninguém que perdeu a primária de New Hampishire jamaisganhou a presidência.’’ As pessoas estão sempre se deixando embrulhar nessas expectativas não confiáveis - oque é uma bobagem mas, de modo geral, não oferece perigos. Quando o seu dinheiro entra no negócio, porém, aArmadilha do Historiador se torna perigosa. Você pode acabar duro!No ramo de assessoria financeira, a armadilha aparece em todo canto, é ubíqua. Era de crer que, tendoobservado vezes sem conta que os eventos raramente ocorrem como esperam, a maioria dos assessores tivesseaprendido a evitar a armadilha. Pois é, mas a ilusão de ordem - ou, talvez, a necessidade de acreditar em ordem -é forte demais.Existem, em Wall Street, escolas de pensamento inteiras que repousam em falácias originárias da Armadilhado Historiador. Analistas de ações e outros valores recuam no tempo até o último mercado de certos papéis, ougrupos de papéis, que conheceu uma alta explosiva, e reúnem montanhas de fatos a respeito de tudo que à épocaocorria em volta. Registram que o PNB ia em alta, a taxa de juros caía, a indústria do aço tinha um bom ano,seguros não eram lá essas coisas, o time do White Sox segurava a lanterna, o presidente tinha uma tia Matildaque andava resfriada. Passam, então, a esperar que a mesma configuração de circunstâncias torne a ocorrer. Equando a portentosa constelação se apresenta, dão pulos de entusiasmo:- Olhem só! Tudo igualzinho! Vem uma alta por aí, tão certo como dois e dois são quatro!Pode ser que sim. Mas também pode ser que não.Frank Henry conheceu uma moça que mergulhou de cabeça na Armadilha do Historiador, e quase morreu.Era uma funcionária subalterna, mal paga, da União de Bancos Suíços. Pela morte do pai, herdou algumdinheiro, que resolveu investir a fim de subir na escala social, deixar a classe dos remediados. Frank Henrygostou da sua bravura, tomou pela moça um certo interesse de avô, e, quando ela pedia, dava-lhe conselhos.Do que aprendera na sua vidinha bancária, interessou-se pelas operações com moedas. É um jogo de altorisco e, quando se ganha, os lucros são proporcionais. A base do jogo é a maneira inconstante como as moedasdo mundo flutuam, variando os valores umas em relação às outras.Para entrar no jogo você compra, digamos, um punhado de ienes japoneses, e paga-os em dólares. Espera queo iene se valorize em relação ao dólar. Isto ocorrendo, você sorri e descarrega os seus ienes, e recebe por elesmais dólares do que pagou. Uma vez que os valores das moedas são muito voláteis, e porque os negócios sãofeitos com pesadas garantias, isto é, você põe uma quantidade relativamente pequena do seu, tomando o restoemprestado do corretor, a sua alavancagem é muito grande. De um dia para o outro, dá para dobrar o seu capital;e, da mesma forma, dá para arrebentar os seus dentes financeiros, se as coisas andarem ao contrário.Neste ramo, a maioria dos pequenos especuladores joga com algumas poucas moedas, geralmente duasapenas. Foi o que fez a nossa jovem. Julgava compreender bastante bem a inter-relação do dólar americano coma lira italiana. Frank Henry deu força quando viu que ela jogava um jogo de cada vez - uma decisão acertadapara um iniciante. Começou a preocupar-se, porém, quando a viu entrando na Armadilha do Historiador.Certo dia, a moça contou-lhe ter feito um estudo completo das altas e baixas do dólar e da lira, e sua interrelaçãoao longo da história. Levantamentos desse tipo podem ser úteis em qualquer situação de investimento,desde que não sejam feitos com base no pressuposto de que a história se repetirá. Infelizmente, o pressuposto damoça era o mesmo.Segundo os seus estudos, contou ela a Frank Henry, quando o franco suíço subia, quando as relações russoamericanasesfriavam, e quando diversos outros indicadores econômicos e diplomáticos internacionais ocorriam,a lira sempre se valorizava em relação ao dólar. Ela se propunha esperar que os indicadores lhe dessem o sinalhistórico, para então mergulhar de cabeça no jogo.A essa altura, os Axiomas de Zurique ainda não se encontravam completamente formulados. Frank Henryainda não dispunha de um rótulo competente como ‘’Armadilha do Historiador’’, com o qual identificar o quejulgava ser uma falha no raciocínio dela. Fez o que pôde para dissuadi-la, mas a moça estava empolgada demais,não conseguia nem escutar. É o que acontece, quase sempre, com descobridores de novas fórmulas de ganhardinheiro.- Ela achava que havia encontrado uma espécie de chave mágica - disse Frank Henry, com tristeza. -Perguntei como é que, apesar de anos e anos procurando, milhares de outras pessoas igualmente inteligentesnunca tinham encontrado nada, e ela disse que não sabia nem estava interessada em saber. Era tão grande suaexcitação que, quando um rapaz a convidou para jantar num restaurante italiano, ela passou metade da noitediscutindo taxas de câmbio com o maitre.Finalmente, acendeu-se a luz verde dos indicadores internacionais, e lá se foi ela. Tornou-se proprietária deuma montanha de liras. Que, ato contínuo, começou a encolher em relação ao dólar.Quando o prejuízo atingiu cerca de 15% do capital, Frank Henry lhe recomendou que vendesse. Mas a ilusãode ordem era demais. A moça estava convencida de que lhe bastava esperar, que a sua fórmula acabariafuncionando. Sempre funcionara, não seria agora que não daria certo. O mercado é que estava errado!O fato é que ela estava enxergando o mundo pelo avesso. Fórmulas podem estar erradas; o mercado nunca. Omercado é mercado, nem mais nem menos. Não faz previsões nem promessas. Está ali, e basta. Discutir com eleé como sair numa tempestade de neve, gritando que só deveria nevar no dia seguinte.A nossa jovem discutia sem parar. O mercado internacional de câmbio recusava-se a entender. Frank Henryjamais ficou sabendo quanto ela perdeu; achou que perguntar seria uma crueldade. Mas eu garanto que, quandose desfez da sua posição em liras, tinha levado uma surra danada.6º AXIOMA MENORCuidado com a ilusão do Grafista.Representar números por meio de linhas em papel milimetrado pode ser útil ou perigoso. É útil quando ajudavocê a visualizar algo com maior clareza do que lhe seria possível apenas com números. Fica perigoso quandotorna a coisa representada mais sólida e portentosa do que na realidade é.A Ilusão do Grafista, freqüentemente, é uma extensão gráfica da Armadilha do Historiador. Ilustra-se istomelhor com os grafistas de Wall Street. Trata-se de pessoas com um jargão particular, que quase ninguém mais écapaz de entender; possuem suas próprias revistas e jornais, igualmente incompreensíveis para os mortaiscomuns; e têm sua própria ilusão de ordem, cruamente visualizada. Acreditam que o preço futuro de uma ação -ou de uma moeda, metal precioso ou qualquer outra coisa cuja cotação de mercado é noticiada com freqüência -pode ser determinado por meio de gráficos nos quais são registradas as oscilações de preço passadas.O grafista começa fixando sua atenção em algum tipo de investimento - digamos numa ação, a U-Lá-LáEletrônica. Vai buscar em meses, anos atrás, as variações de preço da ação, traduzindo os números encontradosem pontos e linhas sobre papel milimetrado. E passa a estudar o padrão resultante. Está especialmenteinteressado em oscilações bruscas, altos e baixos ocorridos imediatamente antes de uma alta ou baixasignificativa na ação da U-Lá-Lá. Da próxima vez que topar com oscilações semelhantes, concluirá que está àbeira de uma nova alta ou baixa importante, e montará a sua especulação a partir daí.Quando as coisas não ocorrem como espera - ou seja, em mais ou menos 50% das vezes -, com a maiorhumildade o grafista assumirá a culpa. E insistirá em que o problema foi ele não ter sido astuto o bastante. Ografista sabe que o mercado pode ser previsto pelos gráficos, desde que ele seja capaz de perceber os padrõescorretos.É incapaz de acreditar na mais simples das explicações possíveis: o mercado de ações não obedece a padrãonenhum. Praticamente, jamais se repete, e nunca o faz de forma confiável, previsível. Fazer gráficos dos preçosde ações é como fazer gráficos da espuma do mar. Agora está assim, daqui a pouco não estará mais. O mesmodesenho você só tornará a ver por pura sorte. E, caso o reveja, não quer dizer rigorosamente nada, pois nãoantecipa coisa alguma.Outro elemento da Ilusão do Grafista decorre da forma peculiar como uma linha traçada em preto,ininterrupta, audaciosamente cortando o papel milimetrado, é capaz de fazer um monte de númerosdesinteressantes, essencialmente desordenados, parecer uma importante tendência. Há séculos que os camelôs eos vigaristas deste mundo conhecem a força dos gráficos. Vendedores de fundos mútuos nunca saem de casa semeles. O valor da cota do fundo é capaz de vir subindo tão devagarinho que sequer empata com a inflação;colocando, porém, os anos bem juntinhos num gráfico, talvez esquecendo-se de alguns maus anos que preferemnão comentar, os promotores de fundos são capazes de apresentar uma beleza de gráfico no seu folheto de venda.O cliente vê aquela linha preta em disparada e fica boquiaberto: ‘’Puxa!’’O perigo não está só em que você pode ser passado para trás por outros; pior é ser enganado por si próprio.Digamos que está examinando um gráfico que mostra o valor da lira em relação ao dólar, em anos recentes. Alinha não para de subir, e lhe ocorre: ‘’Ei! Quem sabe não é uma boa entrar nessa?!’’Mas, espere um momento. Não se deixe fascinar pela linha, apenas. Examine o que ela se propõe arepresentar em termos numéricos. Talvez apareçam ali somente os pontos altos da lira a cada ano. Um outrográfico, mostrando seus pontos baixos, talvez se apresente como uma linha descendente. Por outras palavras, arelação lira - dólar tem sido marcada por variações cada vez mais amplas. As mudanças calmas e firmessugeridas pela linha ascendente do gráfico não passam de uma ilusão. O fato é que se trata de uma relação cadavez mais desordenada.É por aí que as pessoas se deixam iludir pelos gráficos. Uma linha em papel milimetrado tem sempre um arconfortavelmente ordenado, mesmo quando o que ela representa é o caos.A vida jamais acontece numa linha reta, como qualquer adulto sabe. Contemplando um gráfico, porém, éfacílimo ficarmos hipnotizados e esquecermos disto.Você dá uma olhada num gráfico representando a lucratividade da U-Lá-Lá Eletrônica. Especialmentepreparado para o relatório anual, o gráfico só mostra glórias, ao vivo e em cores. A linha ascendente, forte,grossa, ininterrupta, tão completamente entronizada ali, parece que nunca será diferente. Nada é capaz de rompêla.Pode curvar-se, mas só um pouquinho. A impressão que dá é de que subirá para sempre.Você, porém, não deve apostar nisso.7º AXIOMA MENORCuidado com a ilusão de Correlaçãoe a ilusão de Causalidade.Tem aquela velha piada do camarada que ficava todos os dias na mesma esquina, acenando os braços eemitindo gritos estranhíssimos. Um dia um guarda vai lá e pergunta do que se trata:- Estou mantendo as girafas longe - diz o sujeito.- Mas nunca apareceram girafas por aqui - retruca o guarda.- Pois é, tenho trabalhado bem, não tenho?É uma característica das mentes até mais racionais perceberem relações de causa e efeito onde não existem.Quando necessário, nós as inventamos.A mente humana é um órgão em busca de ordem. Não se sente à vontade no caos, e, se for a única maneirade se satisfazer, é capaz de refugiar-se num mundo de fantasias. Então, quando ocorrem dois ou mais eventosperto uns dos outros, vamos logo descobrindo elos causais entre eles. Isso nos deixa mais confortáveis.Somos também capazes de ficar mais vulneráveis, mas sobre isto geralmente não pensamos, até ser tardedemais.Vou dar um exemplo meu. Há muitos anos, antes de Frank Henry e eu termos conversado exaustivamentesobre os Axiomas de Zurique, ganhei um dinheirinho pulando pra lá e pra cá entre IBM e Honeywell. Por essetempo, a Honeywell estava totalmente envolvida com computadores de grande porte e concorria diretamentecom a IBM, muito mais que hoje. Ao longo de um período de uns 18 meses, percebi que, freqüentemente, ascotações dos dois papéis andavam em sentidos opostos. Quando a Honeywell passava algumas semanas subindo,a IBM caía, e vice-versa. Separei um dinheirinho e fiz o que achei ser esperto: ficar um tempo com Honeywell,na subida pular fora, comprar IBM lá embaixo, subir com ela... a assim por diante.Funcionou razoavelmente algumas vezes. Eu deveria ter-me dado conta de que estava funcionando apenaspor questão de sorte, mas nesse tempo eu ainda não sabia das coisas. Achei que funcionava porque... porque...bem, acabei estabelecendo uma relação causal a fim de explicar o fenômeno que vinha observando.Criei a teoria de que havia um bando de grandes investidores - fundos mútuos, seguradoras e milionários -que periodicamente trocavam de posição entre IBM e Honeywell. Quando a Honeywell anunciava algumproduto novo a atraente, ou qualquer outra coisa boa, todos esses hipotéticos grandes investidores vendiam suasposições em IBM e desandavam a comprar Honeywell, e vice-versa. A ser verdadeira, essa hipótese inventadaexplicaria os movimentos opostos dos dois papéis.Era verdadeira? Quase com toda certeza, não. A verdade, sem dúvida, era que esses movimentosaparentemente ordenados eram provocados por coincidências devidas a pura sorte, por acontecimentos casuais eimprevisíveis. O fato de, no passado, os preços terem andado algumas vezes em sentidos opostos não indicava,nem podia ser tomado como indício de que se repetiria no futuro. A relação causal que eu inventara, porém, fezcom que aquele minueto todo parecesse mais ordenado do que realmente era, e eu, confiante, apostei dinheirodemais na minha suposição.Comprei um pacote de Honeywell a um preço que me pareceu o fundo do poço. Ato contínuo, tantoHoneywell como IBM entraram em parafuso, como um par de patos baleados. Antes de me dar conta do queestava acontecendo e de abandonar minhas ilusões de ordem, eu já tinha perdido cerca de 25% do meuinvestimento.A menos que você realmente veja uma causa operando - e estou falando de ver mesmo -, considere todas asrelações causais com o maior dos ceticismos. Quando perceber eventos ocorrendo juntos, ou em gangorra, amenos que tenha sólidas provas em contrário, presuma que a proximidade se deve ao acaso, mais nada. Tenhasempre em mente que está tratando com o caos, e conduza os seus negócios a partir daí. Como diz o 5º GrandeAxioma: até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso.Porque tanta gente no mundo financeiro procura, desesperadamente, padrões de ordem, Wall Street não párade passar idéias sobre possíveis ligações causais entre isto e aquilo. Algumas dessas ligações podem parecerplausíveis a muitos, outras só a uns poucos. Todas, porém, têm uma espécie de atração para a mente humana,esse órgão que ama a ordem, e todas, provavelmente, significaram problemas para alguém.Por exemplo, um conjunto dessas ligações - de que alguns acham graça mas que muitos levam a sério - tem aver com um fenômeno conhecido como Síndrome do Primeiro Ano Republicano. Desde as primeiras décadasdeste século, no primeiro ano de um presidente republicano o mercado tem caído - valendo isto para o primeiroou segundo mandato. Aconteceu uma vez com Herbert Hoover, duas com Eisenhower, duas com Nixon, e, nomomento em que escrevemos, com Reagan já aconteceu uma vez. Aconteceu até nos primeiros doze meses doirregular mandato de três anos de Gerald Ford.A primeira pergunta é: por quê? E a segunda é: o que deve um investidor fazer a respeito, se é que deve fazeralguma coisa?A resposta mais provável à primeira pergunta é que o fenômeno é provocado por acasos que nada têm a vercom o partido do presidente recém-empossado. Correlacionar acasos com movimentos do mercado é o que demais comum existe, e aqui não se trata de outra coisa. É parecido com o índice do Jogo Final - um fato peculiarfreqüentemente registrado em Wall Street: o mercado sempre sobe quando a finalíssima do campeonato defutebol, em janeiro, é ganha por uma equipe que tem sua origem na Liga Nacional de Futebol. É divertidíssimobater papo sobre o Indício do Jogo Final, mas ninguém pode levar a sério que exista uma relação causal entre umjogo de futebol e a Bolsa de Valores. As correlações simplesmente acontecem, mais nada. O que se dá com aSíndrome do Primeiro Ano Republicano não é senão isso.Quanto à segunda questão - o que fazer a propósito da síndrome -, a resposta correta é: nada.Há investidores, contudo, que insistem em extrair dela alguma espécie de ordem. A teoria deles é que orepublicanismo de um presidente causa a queda do mercado no primeiro ano. Causa, como? Para isto, háhipóteses à vontade. Uma delas diz que o Partido Republicano, identificando-se como partido da prosperidadeeconômica, leva as expectativas financeiras das pessoas a níveis irreais. Quando não enriquecem subitamente,logo no dia da posse, elas têm uma enorme decepção, e é nesse mar de desapontamentos que o mercado se afoga.Esta é só uma das teorias. Existem outras, mas não vamos perder tempo com elas, que nenhuma merece serlevada a sério. São todas exemplos de como as pessoas criam ligações causais fantásticas, quando queremexplicar fenômenos observados. E todas são exemplos de como uma ligação causal, uma vez inventada eestabelecida, é capaz de fazer com que um fenômeno pareça mais ordenado do que realmente é.O que, conforme já vimos, pode ser perigoso. Se acreditar que o republicanismo de um presidente causa odesabamento do mercado, você então percebe toda uma série de eventos ordenados, e é capaz de sentir-seobrigado a algum tipo de ação. Como o professor Fisher, começa a enxergar padrões onde eles não existem.É possível que, no futuro, a Síndrome do Primeiro Ano Republicano venha a funcionar de novo, e é possívelque não venha. Começou por acaso, um dia, e acabará também por acaso. Não dá para prever uma coisa nemoutra. Na realidade, trata-se apenas de mais um aspecto do caos.Evite imaginar causas quando não pode, realmente, observá-las em funcionamento. Estará evitando muitosofrimento. Divirta-se na finalíssima do campeonato de futebol; se ganhar o time errado, procure um bar, nãouma corretora.8º AXIOMA MENORCuidado com a Falácia do Jogador.O jogador diz: ‘’Hoje eu estou quente!’’ O comprador de bilhete de loteria: ‘’Hoje é o meu dia de sorte!’’Ambos estão tentando criar um estado de eufórica expectativa, no qual arriscarão o seu dinheiro com menosprudência que o normal. Ambos deverão se arrepender.A Falácia do Jogador é uma espécie peculiar de ilusão de ordem. Neste caso, a ordem não é percebida nomundo caótico à volta, mas dentro de si mesmo, no próprio ser. Quando diz que está ‘’quente’’, ou que é o seu‘’dia de sorte’’, na realidade a pessoa está querendo dizer que se encontra, temporariamente, num estado no qualacontecimentos casuais serão influenciados a seu favor. Num mundo desordenado, onde os eventos rodopiam emtodas as direções, somos uma ilha de calma e ordem. À nossa volta, as coisas deixarão de acontecer de formatresloucada, e obedecerão à nossa ordem. Roletas e caça-níqueis serão nossas escravas; cartas pedidas para omeio entrarão, certinhas; cavalos se esfalfarão para nos levar ao guichê pagador; o bilhete que comprarmos seráo premiado; se resolvermos entrar no mercado de ações escolhendo de olhos vendados o investimento, correndoo dedo sobre as cotações num jornal, o papel que comprarmos dobrará de valor em uma semana. Não tem erro!Pois sim!É surpreendente a quantidade de gente sabida que se deixa levar pela Falácia do Jogador. Ela aparece ondequer que se aposte dinheiro, especialmente em cassinos (daí o nome). Um dos conselhos mais inúteis que secostuma ouvir em Atlantic City e Las Vegas é que a gente tem de ‘’testar’’ a sorte, todas as noites, antes deentrar no jogo a sério. Na verdade, há mesmo livros sobre jogos, alguns até práticos, que sugerem isto comgrande solenidade. A idéia é a pessoa começar com algumas apostas pequenas - um ou dois dólares nos caçaníqueis,por exemplo -, para ver como anda a sorte. Se a máquina engolir a sua oferenda sem sequer agradecer, éque a sorte não está com você aquela noite; o melhor que tem a fazer é voltar para o hotel e ficar vendo televisão.Se a máquina, porém, lhe devolver a oferenda com juros, essa é a sua noite para despejar dinheiro nos dados e naroleta.Pessoas de todo jeito acreditam nessa ilusão de ordem. Gente que joga valendo um dinheirão, gente queaposta níqueis. Os ricos, os que chegam ao cassino em Ferraris e casacos de pele, acreditam tanto quanto ospobres diabos, aqueles que, perdendo, não terão nem o do ônibus para voltarem para casa. É possível que todosnós, em algum momento das nossas vidas, acreditemos nisso.Como tantas outras dessas ilusões, a Falácia do Jogador tem grande apelo. Parece verdade. À sua maneiratorta, dá impressão de racional.Todo mundo pode citar lances da sua própria experiência capazes de comprová-la. Se você joga bridge,pôquer ou Monopólio com alguma freqüência, não tem dúvida de que há certas noites em que os dados ou ascartas estão tão bons que dá até vergonha; em outras noites, porém, o melhor teria sido ficar em casa com umbom livro. Há noites em que se está ‘’quente’’, e noites em que não se está.O fenômeno não se restringe à mesa do jogo; estende-se a todas as atividades da sua vida. Há dias em que assuas decisões são todas acertadas, brilhantes, o mundo lhe sorri, o correio entrega cheques inesperados e o seurival na empresa decide ir tentar a vida na Austrália. Dias há, também, em que tudo que você toca vira cinza epó.É absolutamente natural enxergar, por trás disso tudo, alguma espécie de mecanismo ordenador.E a ilusão é reforçada pelas histórias que jogadores gostam de contar: fantásticas histórias de momentos‘’quentes’’, de imbatíveis períodos de sorte. Em todos os cassinos, bem como em qualquer lugar onde sejamvendidos bilhetes de loteria, essas histórias são freqüentes. Algumas são conhecidas apenas localmente, outrassão clássicos internacionais.Por exemplo, a incrível história de Charles Wells, imortalizado numa canção popular da última década doséculo passado, os ‘’Alegres Anos 90’’, intitulada O Homem que Quebrou a Banca em Monte Carlo. Não foiuma vez só que Wells conseguiu o legendário feito; foram três noites seguidas, em 1891.‘’Quebrar a banca’’ não era tão dramático quanto parece. Não queria dizer que o cassino fosse à falência.Significava apenas que se esgotava o dinheiro da casa, designado para aquela mesa. Mesmo assim, era tão raroque, quando alguém o conseguia, ainda que uma única vez, já era notícia de primeira página nos jornais. (Ocassino tinha o maior prazer de cooperar na divulgação e, cerimoniosamente, cobria a mesa ‘’quebrada’’ com umpano negro. No dia seguinte, era certo que uma nova multidão de trouxas apareceria trazendo o seu dinheiro.)O negócio de Wells era a roleta. A última das suas três noites vitoriosas foi a mais incrível. Estava jogando sóplenos, que é o lance mais difícil da roleta. Escolhe-se um número, de 1 a 36, e aposta-se. Ganhando, recebe-semultiplicada por 36 a quantia apostada. Nas antiquadas roletas de Monte Carlo, as chances eram de 37 a 1 contrao jogador.Wells pôs suas fichas no 5, e as deixou lá, engordando. O 5 deu cinco vezes seguidas. A banca quebrou.Wells deixou o cassino com pouco mais de 100.000 francos, os quais, em poder de compra, valeriam mais de 1milhão de dólares hoje.Há também o caso de Caroline chamada ‘’La Belle’’, talvez a mais famosa e, na opinião de alguns, a maislinda das célebres cortesãs que floresceram em Monte Carlo nos seus dias de glória. Aos 18 anos, ela foi levadapara a famosa cidade do jogo por um sujeito que, evidentemente mau jogador, além de canalha, perdeu tudo nocassino e a abandonou. Restavam a Caroline dois luíses - moedas de 20 francos, valendo cada uma talvez 100dólares em dinheiro de hoje. Num impulso desesperado, La Belle foi a uma mesa de roleta e depositou seus doisluíses no vermelho.A aposta na cor, vermelho ou preto, é uma modalidade que, na roleta, dobra o dinheiro do ganhador. CarolineOtero, apavorada demais para presenciar o resultado, afastou-se da mesa, deixando o seu dinheiro ali, para semultiplicar ou desaparecer.Deu vermelho 28 vezes seguidas. A banca quebrou, e a jovem abandonada - agora subitamente rica -transformou-se instantaneamente na rainha de Monte Carlo.Histórias como estas são muito divertidas. Algumas vêem do século passado, outras são mais recentes, etodas são contadas em apoio à Falácia do Jogador.- Veja bem, existem momentos em que uma pessoa fica mesmo quente! - dirá um crédulo. - Estão aí ashistórias para provar. O que você tem que fazer é esperar esse momento, e aí apostar feito louco!As histórias não provam nada disso. O que provam, na verdade, é que os períodos de ganhos acontecem.Jogue uma moeda para o alto um número suficiente de vezes, e não tardará a obter uma seqüência de caras.Mas não existe nenhuma ordem nisso. Não dá para saber com antecedência quando tal seqüência começará, e,uma vez começada, ninguém será capaz de garantir quantas vezes ocorrerá.A mesma coisa acontece com a roleta, as corridas de cavalos, o mercado de arte, ou qualquer outro jogo queenvolva apostas em dinheiro. Se jogar durante um longo tempo, terá os seus períodos de ganhos, alguns atémemoráveis, com os quais, provavelmente, encherá a paciência dos amigos pelo resto da vida. O que não existeé a maneira ordenada pela qual você poderá tirar proveito de tais períodos. Não há como perceber quandocomeçam, nem como prever sua duração. São, tão-somente, mais um aspecto do caos.Se você está numa roleta apostando no vermelho e dá vermelho três vezes seguidas, ótimo. Mas, o que é queisto lhe diz em relação ao futuro? Estará você no começo de uma seqüência de 28 vermelhos? Está ‘’quente’’?Deveria aumentar a aposta?Muitos aumentariam. E esta é uma das razões pelas quais tantos saem dos cassinos de bolsos vazios.Conforme aprendemos ao estudarmos o 2º Grande Axioma, incontáveis especuladores e jogadores foram àfalência por não terem saído do jogo enquanto estavam ganhando. A Falácia do Jogador tende a encorajar essefracasso, na medida em que ela estimula a sensação de temporária invencibilidade.Eis aí uma sensação perigosa. Ninguém é invencível, nem por meio segundo.Caroline Otero e Charles Wells tiveram sorte. Foram obrigados a parar de jogar porque o cassino ficou semdinheiro. Além do mais, depois de cada mão, devido às regras e aos limites impostos pela casa, parte do dinheirotinha de ser retirado da mesa. Foram salvos pelas circunstâncias. Fossem outros os fatos e tivessem elescontinuado a jogar, cedo ou tarde teriam perdido, e seus nomes não seriam lembrados até hoje.Não eram invencíveis. Ambos parecem ter tido a sensação de que o eram. O bom senso deles pode ter sidoconfundido pelos extraordinários períodos de ganhos. Realmente, depois de uma experiência destas não deve serfácil manter-se perfeitamente racional. De qualquer forma, a partir de então Caroline Otero e Charles Wellspassaram a levar a vida como vítimas de grandiosos ataques da Falácia do Jogador. Assumiam riscos enormes,como se estivessem certos de que ficariam ‘’quentes’’ para sempre.Não ficaram. Caroline Otero morreu pobre, num apartamentinho em Paris. Falido, Charles Wells terminouseus dias na prisão.Estratégia EspeculativaVejamos, especificamente, como o 5º Grande Axioma, aconselha a operar o seu dinheiro.O Axioma adverte que não veja ordem onde não existe. Não significa que você deva desesperar de jamaisencontrar uma aposta vantajosa ou um investimento promissor. Pelo contrário: deve estudar a especulação naqual está interessado - a mesa de pôquer, o mundo da arte, o que for - e, quando topar com algo que tenha boacara, aposte.Não se deixe, porém, hipnotizar pela ilusão de ordem. Seus estudos podem ter aumentado as suasprobabilidades, mas não deve ser ignorado o imenso papel que o acaso desempenha no seu projeto. É improvávelque os seus estudos lhe tenham criado uma situação ‘’certa’’, ou sequer ‘’quase certa’’. Você continua lidandocom o caos. Enquanto tiver isto em mente, poderá poupar-se de grandes estragos.Seu monólogo interior deve ser mais ou menos assim: ‘’Tudo bem, fiz o meu dever de casa o melhorpossível. Acredito que estou apostando numa boa, e que vou ganhar. Porém, como não consigo controlar todas ascasualidades capazes de afetar o meu dinheiro, sei que são grandes as minhas possibilidades de estar errado.Portanto, permanecerei atento, pronto a saltar na direção que os fatos indicarem.’’Esta é a lição do 5º Grande Axioma. À medida que o tempo passa, você vai se tornando um especulador maisesperto.

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