quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Introdução: O que são e como foram criados os Axiomas.

INTRODUÇÃO
O que são e como foram criados os Axiomas.
Vejam o quebra-cabeça que é a Suíça. Essa minha terra ancestral é um lugarejo pedrento, com uma área
menor que a do estado do Rio de Janeiro. Não tem um centímetro de litoral. É uma das terras mais pobres em
minerais que se conhece. Não tem uma gota de petróleo que possa chamar de sua, e mal consegue um saco de
carvão. Quanto à agricultura, o clima e a topografia são inóspitos a quase tudo.
Há trezentos anos a Suíça fica fora das guerras européias, principalmente porque, nesse tempo todo, não
apareceu um invasor que realmente a quisesse.
Com tudo isso, os suíços estão entre as pessoas mais ricas do mundo. Em renda per capita, comparam-se aos
americanos, alemães e japoneses. Sua moeda é das mais fortes do mundo.
Como conseguem isto?
Conseguem-no porque são os investidores, especuladores e jogadores mais espertos do mundo.
O assunto deste livro é: apostar para ganhar.
Isto talvez dê a impressão de que se trata de um livro para todo mundo. Não é. Claro, todo mundo quer
ganhar; mas nem todo mundo quer apostar, e é aí que reside uma diferença da maior importância.
Muita gente, a maioria provavelmente, quer ganhar sem apostar. Este é um desejo perfeitamente
compreensível, não há nada de errado nele. Na verdade, muitos dos mais antigos ensinamentos sobre a Ética do
Trabalho frisam bem isto. Dizem-nos que correr riscos é uma tolice. Uma pessoa prudente não corre riscos
maiores que os exigidos pelos termos básicos da existência humana. Viver bem é ganhar a vida com o suor do
próprio rosto - algo meio aborrecido, talvez, mas seguro. Mais vale um pássaro na mão...
Bem, as regras do jogo são muito claras. Se você é contra o jogo por motivos filosóficos, encontrará pouca
coisa útil neste livro - a menos, é claro, que ele mude a sua maneira de pensar.
Mas se não é totalmente contrário a assumir riscos razoáveis - melhor ainda, se gosta de se arriscar, como os
suíços gostam -, este livro foi feito para você. Os Axiomas de Zurique trata de riscos e de como administrá-los.
Se você estudar os Axiomas com a atenção que merecem, eles são capazes de possibilitar que ganhe mais
apostas do que acreditava possível.
Vamos falar claro: com eles, você é capaz de ficar rico!
Aqui se falará sobre apostas no sentido mais amplo. Você verá o mercado de ações mencionado com
freqüência porque é daí que vem a maior parte da minha experiência, mas o livro não se limita a este grande
supermercado de sonhos. Os Axiomas se aplicam às especulações com mercadorias, metais preciosos, arte,
antigüidades e imóveis; às marchas e contramarchas do dia-a-dia dos negócios; aos jogos de cassino ou de mesa.
Em resumo, os Axiomas se aplicam a qualquer situação em que você arrisque dinheiro visando a ganhar mais
dinheiro.
Qualquer adulto sabe que a vida é um jogo. Muitos, provavelmente a maioria, sentem-se bastante infelizes
com este fato, e passam a vida buscando meios e modos de aceitar o menor número de apostas possível. Outros,
porém, fazem justamente o contrário, e, entre estes, os suíços.
Nem todos os suíços exibem este traço, é claro, mas os que o exibem são em grande número. O suficiente,
com certeza, para permitir generalizações sobre o caráter nacional dos suíços, que não se transformaram nos
banqueiros do mundo for ficarem escondidos em quartos escuros, roendo as unhas, mas por enfrentarem riscos
cara a cara, e tratando de descobrir meios de administrá-los.
Do alto das suas montanhas, os suíços olham o mundo à volta e vêem-no cheio de riscos. Sabem que é
possível a uma pessoa reduzir ao mínimo os riscos que corre, mas sabem também que, se fizer isto, tal pessoa
estará abandonando toda esperança de vir a ser algo mais que um rosto na multidão.
Na vida, para qualquer espécie de ganho - em dinheiro, em estatura pessoal, o que quer que se defina como
“ganho” -, você tem de arriscar um pouco do seu capital material e/ou emocional. Tem de comprometer
dinheiro, tempo, amor, alguma coisa. Esta é a lei do universo. A não ser por pura sorte, não há como escapar.
Nenhuma criatura na face da terra está isenta de obedecer a esta lei impiedosa. Para virar borboleta, a larva
precisa engordar, é obrigada a se aventurar por onde há passarinhos. Não tem apelação: é a lei.
Observando isto, os suíços concluíram que a maneira sensata de levar a vida não é fugindo aos riscos, mas
expondo-se deliberadamente a eles. É entrar no jogo. Apostar. Mas não à maneira irracional da larva. Ao
contrário: apostar com cautela e deliberação; apostar de maneira tal que grandes ganhos sejam mais prováveis
que grandes perdas - apostar e ganhar.
É possível isto? Com toda certeza. Existe fórmula para conseguí-lo. “Fórmula” talvez não seja a palavra
adequada, uma vez que sugere ações mecânicas e ausência de opções. Melhor seria dizer “filosofia”. Essa
fórmula, ou filosofia, consiste de 12 profundas e misteriosas regras para se assumirem riscos, os chamados
“Axiomas de Zurique”.
Atenção: ao primeiro contato, os Axiomas são um pouco assustadores. Não são do tipo de conselhos sobre
investimentos que a maioria dos assessores costuma oferecer. Na realidade, contradizem alguns dos mais
estimados clichês da indústria do aconselhamento financeiro.
A maioria dos especuladores suíços bem-sucedidos dá pouca atenção aos conselhos convencionais sobre
investimentos. O sistema deles é melhor.
A expressão “Axiomas de Zurique” foi cunhada num clube de suíços que operavam em mercadorias e ações,
e que se estabeleceu à volta de Wall Street, depois da Segunda Guerra Mundial. Meu pai foi um dos fundadores.
Bem, não era exatamente um clube, pois não tinha estatutos, não se pagava mensalidade nem havia lista de
sócios. Era apenas um grupo de homens e mulheres que se davam bem, queriam ficar ricos e partilhavam da
convicção de que ninguém jamais ficou rico através de salário. Encontravam-se de vez em quando no Oscar’s,
no Delmonico e em outros bares de Wall Street. Esses encontros continuaram através das décadas de 50, 60 e 70.
Conversavam sobre muitos assuntos, mas principalmente sobre riscos. O trabalho de codificar os Axiomas de
Zurique começou com uma pergunta que fiz a meu pai e ele não soube responder.
Meu pai era um banqueiro suíço, nascido e criado em Zurique. Na certidão de nascimento, seu nome era
Franz Heinrich; na América, porém, todos o chamavam Frank Henry. Quando morreu, há alguns anos, seus
obituários deram grande destaque ao fato de que ele dirigia a sucursal de Nova York do Schweizerbankverein - o
gigante financeiro de Zurique, a União de Bancos Suíços. O trabalho era importante para ele, mas uma vez me
disse o que realmente queria gravado na sua sepultura: “Ele apostou e ganhou”.
Começamos a conversar sobre especulação quando eu ainda estava no secundário. Ele pegava o meu boletim
e reclamava que o currículo era incompleto:
- Não ensinam aquilo de que você mais precisa: especulação. Como correr riscos e ganhar. Um garoto se
criar na América sem saber especular... puxa... é o mesmo que estar numa mina de ouro e não ter uma pá.
Quando eu estava na faculdade, e depois, prestando serviço militar, tentando decidir o que fazer na vida,
escolhendo carreira, Frank Henry dizia:
- Não pense apenas em termos de salário. Ninguém fica rico através de salário, e há muita gente que fica
pobre. Tem que ter mais do que isso. Algumas boas especulações, é disso que você precisa.
Enfim, uma conversa tipicamente suíça. O fato é que absorvi essas coisas como parte da minha educação.
Quando dei baixa, com algumas centenas de dólares de soldos atrasados e ganhos de pôquer, segui os conselhos
de Frank Henry e passei longe das cadernetas de poupança, pelas quais ele nutria o mais profundo desprezo. O
dinheiro foi para a Bolsa de Valores. Ganhei um pouco, perdi um pouco, e acabei saindo mais ou menos como
havia entrado.
Enquanto isto, na mesma Bolsa, Frank Henry fazia um carnaval. Entre outros negócios, ganhou uma fábula
numas ações de minas de urânio no Canadá, loucamente especulativas.
- Como é que se explica isso? - perguntei, chateado. - Eu invisto com toda a prudência e não acontece nada.
Você compra pastagens de alces e fica rico. Há algo que não estou percebendo?
- É preciso saber fazer a coisa - disse ele.
- Tudo bem. Então, me ensine.
Meu pai ficou me olhando, calado, pensando.
Como fiquei sabendo depois, o que ele tinha na cabeça eram regras do jogo especulativo, absorvidas ao longo
de uma vida inteira. São regras que pairam no ar, entendidas mas raramente enunciadas, nos círculos de
banqueiros e especuladores suíços. Tendo vivido nesses círculos desde que conseguira o seu primeiro emprego
de auxiliar de escritório, aos 17 anos, Frank Henry tinha tais regras entranhadas nos ossos. Mas não era capaz de
especificá-las, nem de me explicar como funcionavam.
Conversou a respeito com outros suíços que também operavam em Wall Street. Esses seus amigos tampouco
sabiam exatamente que regras eram essas. Mas, a partir desse momento, tomaram a si a tarefa de isolá-las e
classificá-las em suas mentes. Começou como brincadeira, mas, à medida que os anos passavam, a coisa foi
ficando cada vez mais séria.
Criaram o hábito de questionar a si próprios e uns aos outros sobre as manobras especulativas mais
importantes: “Por que está comprando ouro agora?”, “O que o fez vender essa ação quando está todo mundo
comprando?”, “Por que está fazendo isto, e não aquilo?” ... Obrigavam-se mutuamente a formular as idéias que
os guiavam.
A lista de regras foi evoluindo aos poucos. Foi ficando menor, as regras mais aguçadas, mais bem formuladas
com o passar do tempo. Ninguém se recorda quem criou a expressão “Axiomas de Zurique”, mas foi assim que
as regras acabaram conhecidas, até hoje.
Nos últimos anos, os Axiomas não mudaram muito. Cessaram de evoluir. Tanto quanto se sabe, estão hoje na
sua forma final: 12 Grandes Axiomas e 16 Axiomas Menores.
O valor deles me parece incalculável, e aumenta cada vez que os estudo - um sinal seguro de sua verdade
fundamental. São ricos em camadas secundárias e terciárias de significado; alguns são friamente pragmáticos,
outros beiram o misticismo. Não são apenas uma filosofia da especulação: são marcos para uma vida de sucesso.
E enriqueceram muita gente.

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