quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O 2º Grande Axioma: DA GANÂNCIA

O 2º Grande Axioma:DA GANÂNCIA

Realize o lucro sempre cedo demais.Seja o jogo feito no mercado financeiro, numa mesa de pôquer ou em qualquer outro lugar, o que osamadores fazem é isto: demoram-se demais nas paradas - e perdem.O que os leva a agir assim chama-se ganância, e é disto que trata o 2º Grande Axioma. Conseguindo dominara ganância, praticando este único ato de autocontrole, você se tornará um especulador melhor que 99% dos queandam por aí atrás de fortuna.Só que não é fácil parar quando se está ganhando. A ganância é algo entranhado na mente humana. A maioriade nós a tem em altas doses e ela deve ter inspirado mais sermões dominicais do que qualquer outro dos nossostraços menos nobres. E os sermões costumam ser dramáticos, pontuados de suspiros. Soam desesperados, e odesespero vem da sensação de que a ganância está de tal forma entranhada em nossas almas, que arrancá-la é tãodifícil quanto mudar a cor dos nossos olhos.Uma coisa é óbvia: não há sermão capaz de exorcizá-la. Sermões jamais surtiram qualquer efeito sobre ela. Evocê tampouco conseguirá derrotá-la ouvindo sermões, nem pregando-os. Um caminho mais pragmático epromissor seria pensar no belo e estranho paradoxo que existe no coração do 2º Grande Axioma: reduzindo aganância, você aumenta as suas chances de ficar rico.Uma pausa para definição dos nossos termos. No contexto do 2º Grande Axioma, a ganância significa quererem excesso, querer mais, sempre mais. Significa querer mais do que queria no começo, ou mais do que seriajusto esperar. Significa perder o controle dos seus desejos.A ganância é a prima doente, inchada e autodestruidora do comprismo. No sentido aqui empregado,“comprismo” é o desejo natural de maior bem-estar material, sem conotações pejorativas. Os Axiomas deZurique foram criados por pessoas dotadas de uma sadia dose desse comprismo, e é improvável que vocêestivesse aqui estudando os Axiomas se não tivesse essa característica. Todo animal na face da terra tem oinstinto de buscar comida, um lugar para viver, os meios de autoproteção. Nesse sentido, o que nos difere dasdemais criaturas é que os nossos desejos são mais complicados. Não se envergonhe do seu comprismo, ele éparte do seu equipamento de sobrevivência.O comprismo descontrolado, porém, enlouquecido a ponto de invalidar suas finalidades legítimas, éganância. Esta é preciso temer, fugir dela. É inimiga do especulador.Uma pessoa que dedicou quase toda a vida ao estudo da ganância foi Sherlock Feldman, durante anos gerentedo Dunes, um dos maiores cassinos de Las Vegas. Grandalhão, sempre de óculos de aros grossos e um sorriso demelancólico bom humor, Feldman costumava analisar os fregueses no turno que escolhera para si nos salões, dasduas às dez da manhã. O que ele viu ali transformou-o numa espécie de filósofo bissexto. Dizia:- Se eles quisessem menos, iriam para casa com mais.Criara o seu próprio axioma sobre ganância.Tinha uma compreensão perfeita do problema, sendo ele próprio jogador consumado. Na juventude, fez eperdeu várias fortunas; finalmente, aprendendo a controlar-se, acabou morrendo confortavelmente rico. Falandosobre os freqüentadores do Dunes, dizia ele:- Para a maioria, o que fazem aqui dentro não tem muita importância. Estão só se divertindo. Perdem 100 ou200 pratas, e daí? Mas se o jeito como jogam é o mesmo com que conduzem suas vidas no dia-a-dia, aí pode sergrave. Em muitos casos, dá até para ver por que não são ricos. Você olha para ele aqui e percebe logo que nãoirão a parte alguma que valha a pena. Por quê?Feldman certa vez exemplificou com o caso de uma mulher que aparecera no cassino com um punhado dedinheiro que estava preparada para perder se divertindo:- Ela encostou numa mesa de roleta e apostou 10 dólares, não me lembro em que número, seu número desorte, seu aniversário, sei lá. E, sabe, deu tal número, e ela ficou 350 dólares mais rica. Pegou, então, 100 dólarese pôs noutro número, que também deu! Desta vez ela embolsou 3.500 dólares. Os amigos fizeram uma roda emvolta dela e mandaram que apostasse mais, pois aquela era a sua noite de sorte. A mulher olhou em torno, e eupraticamente podia ver a ganância crescendo nos seus olhos.Feldman interrompeu a história e enxugou a testa, antes de prosseguir:- Ela continuou jogando. Cansou de ganhar nos plenos e passou a postar na cor e nas dúzias. Jogava algumascentenas de dólares de cada vez, e não parava de ganhar. Seis, sete vezes seguidas, A dona estava realmentenuma maré incrível. De repente, estava ganhando 9.800 dólares. Era de pensar que seria suficiente, não era? Euteria parado muito tempo antes. Um ou dois mil já teriam me deixado contente. Mas a mulher não se contentavanem com 9.800. A essa altura, a ganância já a havia deixado “alta”. Dizia que só faltavam 200 para chegar aos10.000 dólares redondos.E, tentando buscar o número redondo, gordo, a mulher da história de Feldman começou a perder. Seu capitalfoi derretendo, e ela, para recuperá-lo, ia fazendo apostas maiores, com chances menores. E acabou perdendotudo, inclusive os seus próprios 10 dólares iniciais.Esta história ilustra o sentido original da conhecida advertência: “Não force a sua sorte”. Ou, como preferemos suíços: “Não estique a sua sorte.” A maioria da pessoas diz isto quase sem pensar, sem se dar conta do seusentido profundo. Mas tal aviso merece ser estudado com mais cuidado do que geralmente lhe dedicam.O que ele quer dizer é o seguinte: no jogo, ou no curso de uma jogada especulativa, de tempos em temposocorrerão períodos de ganho. Você achará tão bom, que vai desejar que durem para sempre. Com certeza, terá obom senso de admitir que a realização de tal desejo é impossível, mas se houver sido agarrado pela ganância, vaise convencer a esperar, ou a acreditar que tais períodos durarão pelo menos um bom tempo... e mais um pouco...e um pouquinho mais... e irá navegando, na crista da onda, até que você e o seu dinheiro se precipitem numacachoeira.O perturbador fenômeno dos períodos de ganhos será estudado com mais detalhes no 5º Grande Axioma. (OsAxiomas se interligam num intrincado desenho: é praticamente impossível falar de um sem mencionar osdemais). A esta altura, o que queremos ressaltar é que não se pode saber de antemão quanto vai durar um períodode ganhos. Pode durar muito tempo. Mas também pode acabar quando o relógio marcar o próximo segundo.O que fazer, então? É preciso presumir que qualquer conjunto ou série de eventos que resultem em ganhospara você terão breve duração, e que os seus lucros, portanto, não serão absurdamente grandes.Sim, é verdade, a gostosa série de acontecimentos pode prosseguir até resultar em ganhos colossais. Pode.Mas você, do seu ponto de vista no começo de tal série, obrigado a (incapaz de ver o futuro) decidir se continuaou se sai, ficará em posição muito melhor se decidir pela média. E a média, de modo esmagador, recomenda quesaia cedo. Longos períodos de altos ganhos ficam famosos e todo mundo comenta; são notícia justamente porserem raros. Os modestos e breves são mais freqüentes.Aposte sempre nos períodos breves e modestos. Não se deixe dominar pela ganância. Quando estiver com umbom lucro, aproveite-o e caia fora.De vez em quando lamentará ter saído. O período de ganhos prosseguirá sem a sua participação, e você vaificar murcho, contabilizando o que deixou de lucrar. Olhando para trás, a sua decisão de sair terá sido um erro. Éuma experiência deprimente. Acontece com todo especulador e não pretendo minimizá-la. Às vezes dá vontadede chorar.Mas, cabeça erguida, anime-se. Para compensar uma ou duas decisões erradas de sair antes do tempo, haverádúzias de ocasiões em que a decisão terá sido acertada. A longo prazo, o controle da ganância dá mais dinheiro.O 2º Grande Axioma manda sempre realizar o lucro cedo demais. “Cedo demais?” O que, exatamente, querdizer isto? Meio estranho, não? Trata-se da necessidade de realizar os lucros antes que o período de ganhos tenhaatingido o pico. Não tente espremer o último centavo possível. Raramente funciona. Não se preocupe com ahipótese de que os ganhos continuem ainda por um longo tempo, com a possibilidade de se arrepender. Nãotenha medo do arrependimento. Como não consegue avistar o pico, cabe-lhe presumir que esteja próximo, e nãolonge. Realize o lucro e caia fora.É como escalar uma montanha em noite negra e fechada. A visibilidade é zero. Lá em cima, em algum lugar,está o pico, e, do outro lado dele, um abrupto despenhadeiro, caminho para o desastre inevitável. Você querchegar o mais alto possível. Idealmente, gostaria de chegar ao pico e parar. Sabe, porém, que o “ideal” raramenteacontece na vida, e não é bobo a ponto de achar que acontecerá agora. O bom senso manda parar a escaladaquando achar que chegou a uma boa altitude. Pare antes do pico. Pare cedo demais.É verdade, quando a neblina se desfizer e o sol aparecer, poderá se encontrar a menos da metade do caminho.Poderia ter escalado muito mais, certo. Mas não fique se lamentando. Não está no topo, mas andou um bompedaço. Seu lucro foi bom, está no bolso, e é isso que importa. Está numa situação muitíssimo melhor do que obando de idiotas que continuou aos tombos em direção ao pico, e foi se espatifar do outro lado, despenhadeiroabaixo.No começo da década de 80, isto aconteceu muito com as especulações imobiliárias. Vejamos, por exemplo,o triste caso de Alice e Harry, um casal de Connecticut. Contaram-me a experiência deles, por acharem tratar-sede um grande ensinamento. É quebrando a cara que se aprende, e queriam passar adiante a lição. Prometi nãorevelar suas identidades. Alice e Harry não são nomes verdadeiros.Com quarenta e poucos anos, ambos são bonitões, inteligentes, ambiciosos. Trabalham e têm bons salários.Sua renda familiar, padrão de vida e aspirações sociais colocam-nos no nível inicial de classe média alta. Têmdois filhos em universidades particulares.Como tantos outros com padrão médio de renda neste final de século XX, sempre acharam difícil viver noslimites dos seus recursos. Jamais conseguiram guardar algo para aplicar, e seus investimentos sempre foram emcontas remuneradas, apólices de seguros e outros tipos de poupança. Especulação mesmo, e boa, só a casa deles.No começo da década de 70, tinham ido para a chique Fairfield, em Connecticut, e comprando uma casa nolimite da sua capacidade financeira. Havia sido uma decisão pensada. Tendo passado anos economizando, esempre se sentindo pobres, ou pelo menos não ricos, estavam começando a perceber o 1º Grande Axioma, aachar que não vinham arriscando o bastante.Como para a maioria das pessoas da sua classe social, a casa significava duas coisas para eles: não só umlugar para morar, mas um investimento, possivelmente muito bom. No caso de Alice e Harry, foi uma excelenteespeculação. Na região de Fairfield os imóveis se valorizaram na década de 70, embora não tão espetacularmentequanto em Marin, na Califórnia, ou Dade, na Flórida. Começam os anos 80, e os nossos heróis estimam que acasa vale duas e meia ou três vezes o que haviam pago fazia menos de dez anos.Hora de vender. As crianças tinham crescido e se tornado independentes. Alice e Harry já não precisavam dacasa tão grande. Na verdade, estavam cheios de morar longe da cidade e das chatices de serem proprietários.Queriam mudar para uma coisa menor, um apart-hotel ou um apartamentozinho comum. A bela valorização dacasa tornava mais atraente a idéia de vender. Teriam um lucrinho simpático. O valor da casa Triplicara;considerando a hipoteca, porém - que tem exatamente o mesmo efeito do depósito nas operações a futuro comações ou mercadorias -, o dinheiro que eles haviam investido na casa se multiplicara por mais de seis.Realmente, nada mau.Foi então que a ganância os pegou pelo pescoço. Queriam mais, e esperaram.Alice lembrava-se de ter lido, ou ouvido contar, que em Marin, nos mesmos dez anos, o valor dos imóveis semultiplicara por dez.- Aí nós pensamos - conta ela. - Não seria uma beleza? Aconteceu em Marin, por que não pode acontecer emFairfield? A nossa casa valendo dez vezes mais, ficaríamos milionários!Harry recorda que o seu principal motivo foi o medo de arrepender-se:- Eu pensava: Claro, seria uma beleza poder vender a casa por três vezes mais do que pagamos. Mas, se euvendo e daqui a alguns anos fico sabendo que o sujeito que comprou tornou a vender por três vezes mais do quepagou? Seria capaz de dar um tiro na cabeça!Aguardaram. Atingiram o pico. E desabaram pelo despenhadeiro do outro lado.Como ocorre na maioria dos casos, o pico estava mais próximo do que queriam acreditar. Em 81/82, omercado imobiliário de Fairfield - como o da maior parte da periferia das cidades americanas - despencou,especialmente no caso das casas grandes. Em alguns bairros, não se compravam casas por dinheiro nenhum.Finalmente, com grande atraso, quando Alice e Harry resolveram vender, o mundo rudemente lhes deu as costas.Pouca gente apareceu para olhar, e menos ainda com intenção real de compra. Até os corretores da região,geralmente um pessoal muito empolgado, pareciam desanimados. Um ano depois, Alice e Harry tinham recebidouma única proposta de compra. O preço oferecido foi um choque. Era superior ao que haviam pago, mas nãomuito. Teriam ganhado mais se houvessem guardado o investimento original na poupança.Da última vez que os vi, continuavam esperando o mercado se recuperar. Tinham aprendido a lição. Nãomais visavam a ficar milionários com a casa. Tinham estabelecido o preço pelo qual gostariam de vender - algoque lhes daria um bom lucro, mas não uma fortuna. Estavam decididos a vender assim que a casa chegasseàquele preço, por mais que o mercado estivesse efervescente, por maiores que fossem as expectativas futuras domundo inteiro.Em outras palavras, estavam decididos a vender cedo demais. Espero que não arredem o pé dessa decisão.Para alguns, parece incrivelmente difícil cumprir o que preceitua o 2º Grande Axioma. E o maior problemaparece ser o medo do arrependimento, um medo que foi o maior inimigo de Harry, e pode continuar a ser e Harrynão está só.É nas cercanias das bolsas de valores que o medo é mais comum e especialmente intenso. Um dos maisantigos ensinamentos de Wall Street diz que não se deve olhar a cotação de uma ação que já se vendeu. Aadvertência não visa a ajudar a ganhar dinheiro, mas a evitar crises de choro. “Ficar na saudade” é uma dassensações mais penosas que um especulador do mercado de ações é capaz de experimentar.Eu que o diga! Por exemplo, quando vendi Gulf Oil a 31 dólares, e fiquei olhando o papel bater 60, um anodepois; ou quando descarreguei 1.500 IBM a pouco mais de 70, e a porcaria do papel foi parar em 130 . Ou...ou... mas, chega, já chega! A gente não deve se torturar. Em vez de ficar chorando esse pouco leite derramado,eu deveria mais era estar me felicitando por todas as vezes em que vender cedo demais foi coisa de gênio.Deveria estar; mas, mesmo um sujeito como eu, diplomado nos Axiomas, há noite em que nada dá jeito nasaudade que vem chegando, vem chegando e se instala. Prometi não minimizar as penas dos possíveisarrependimentos e não o farei. Tampouco tenho remédios a oferecer. Para essa dor não há analgésicos. É,simplesmente, algo com que o especulador tem de aprender a conviver.Esse medo de arrependimento deve ser tão forte nos arredores de Wall Street porque ações têm cotaçõesdiárias, todos os dias úteis. Isto também ocorre em outras áreas de especulação, mas não em todas - em imóveis,por exemplo, não acontece. Você pode ter uma idéia geral, bem vaga, de quanto vale a sua casa, o seu chalé nasmontanhas ou o seu apartamento naquela praia do Caribe, mas não é só abrir o Wall Street Journal e verificar acotação exata, diariamente. Essa ausência de cotações diárias dá uma certa proteção emocional, resguarda agente. A menos que a propriedade se ache realmente à venda, e você esteja recebendo ofertas, não há muito quepossa fazer além de dar palpites sobre quanto pode valer. E tampouco pode saber exatamente o valor de mercadode uma casa que vendeu ano passado, ou há dez anos - o que é outra benção divina.Especulando com ações, porém, é só abrir o jornal ou dar um telefonema para o seu corretor que você ficalogo sabendo, com toda a precisão, quanto o mercado estava querendo pagar ontem por qualquer papel que vocêpossui, possuiu ou teve vontade de possuir. Um mês, um ano depois de ter caído fora, se quiser se atormentar ésó olhar no jornal e ver se o período de ganhos continuou sem a sua presença.Os que especulam em ações vivem agindo assim, e se martirizando. E isto é o que pode toldar o raciocínio deuma pessoa, a ponto de aproximá-la do perigo.Certa noite, fui tomar um drinque com um velho amigo de Frank Henry, um especulador sul-americano. Ohomem estava morto de pena de si próprio e parecia ter bebido a tarde toda. Aos poucos, foi se abrindo, equando consegui perceber do que se tratava, eu estava ouvindo uma tragédia financeira.Frank Henry sempre achava que aquele tipo simpático era emocional demais para Wall Street. Embora eunão soubesse desse detalhe, tinha conhecimento de que americanos e suíços gostam de atraí-lo para altas mesasde pôquer, e ele acabava sempre limpo. À medida que, aos poucos, vinha à luz a sua tragédia, eu ia percebendoque talvez Frank Henry tivesse razão. O homem estava com problemas na Bolsa, provavelmente pelas mesmasrazões que os tinha na mesa de pôquer. Embora soubesse, racionalmente, o que fazer nas diversas circunstâncias,nem sempre conseguia fazê-lo.O problema que o atormentava, naquela noite, começara muito antes. Havia adquirido uma bolada de açõesda Wometco Enterprises, , uma empresa com interesses nas áreas de cinema e TV. O preço subira bem, e passaraa oscilar. O seu lucro já era bom, e não havia razão para acreditar que a alta prosseguiria. Sensatamente, então,passara os papéis adiante. Ato contínuo, devido a fatores imprevisíveis, o preço quadruplicara.Então, o amigo de Frank Henry entrara numa crise de ódio e arrependimento. O negócio ficou tão feio queele passou a ter medo de vender qualquer coisa. Estava paralisado pelo temor de que a história, inexoravelmente,se repetiria: bastaria vender um papel, e lá iria ele para cima. Seu temor se transformara praticamente em pânico.Havia operações que sabia ter de fazer, mas não conseguia se mexer. Uma situação em especial oatormentava. Depois de liquidar Wometco, pusera a maior parte dos seus recursos noutra empresa ligada acinema e TV, a Warner Communications. Conhecia bem o mercado de entretenimento e, com um pouco mais deautocontrole, teria feito uma fortuna nessa área. Suas ações da Warner subiram, resultando, de novo, em bonsganhos. Entre Wometco e Warner, tinha praticamente dobrado o capital.Seria de pensar que era o bastante. Hora de cair fora. Como diz o Axioma, era cedo demais.Mas ele não conseguiu sair. Agarrou-se ao papel.Sem qualquer indício anterior, então, a divisão Atari da Warner afundou num lodaçal de problemas. Nummergulho ininterrupto e ensandecido, as ações da Warner Communications perderam cerca de dois terços do seuvalor.3º AXIOMA MENOREntre no negócio sabendo quanto quer ganhar;quando chegar lá, caia fora.Este 3º Axioma Menor visa a ajudá-lo a resolver o sempre difícil e às vezes paralisante problema de saberquanto é o bastante.Conforme ficou visto, a ganância é a principal razão da dificuldade desta decisão. Quanto mais se tem, maisse quer. É da natureza do ser humano.Há outro fator, porém, que contribui muito para essa dificuldade da maioria, talvez de quase todo mundo; é ofato peculiar de que, se uma especulação dá certo e a fortuna do especulador cresce, a posição recém-atingidavira posição inicial.Digamos que você começa com 1.000 dólares. Aplica-os dando certa garantia, numa especulação com prata.O palpite funciona e, um ano depois, você está com 2.000 dólares. Dobrou o seu dinheiro.Beleza. Se conseguisse isso todo ano, breve estaria milionário. O problema, porém, é que não parece ser abeleza que é. Pelo contrário: de repente você já está achando que esse dinheiro é seu por um mérito qualquer. Atendência é que passe a encará-lo assim, principalmente se o ganhou devagarinho, ao longo de um ano, e nãouma bolada, de uma só vez. Em lugar de dar pulos e dizer, “epa, dobrei a minha grana!” ou “olha só, estou comuma milha que não tinha antes!”, a sensação é de que sempre teve aquele total.Os 2.000 não parecem ser a sua posição ao final. A sensação é que se trata de uma nova posição inicial.Graças a isto, não vai ser fácil cair fora de tal operação.Se você nunca especulou, nem sequer jogou um pôquer baratinho, isto pode parecer confuso. Também podeparecer um probleminha curioso, capaz de afligir outras pessoas, mas que com você não acontece. Écompreensível que pense assim, mas está sendo otimista demais. Chega uma hora em que esse problema afligepraticamente todo mundo. Existe uma remotíssima chance de que você seja imune. O negócio é aprender aenfrentá-lo quando se apresentar.São inúmeras as atividades humanas nas quais as posições inicial e final são claramente visíveis, percebidas ecompreendidas. No atletismo, por exemplo. Quando um corredor chega ao final dos 1.500 metros, sabe que é ofim. Não existe a questão de correr outros 1.500 m, a fim de ganhar duas medalhas em vez de uma. As energiasestão exauridas. A fita foi rompida, o placar já registra o vencedor. Acabou-se. É hora de ir para casa descansar,reunir energias para a próxima corrida.No mundo do jogo e das especulações, são poucos os pontos finais assim nítidos. Jogos de pôquer têm fim, éverdade. Os hipódromos fecham ao final do dia. De longe em longe, uma operação de Bolsa pode encerrar-sequando a empresa na qual se investiu é absorvida por uma empresa maior e deixa de existir. Na maioria doscasos, porém, é você mesmo que vai ter de decidir quando basta.Isto é muito, muito difícil de fazer, tão difícil que apenas uma minoria aprende. Na realidade, a maioria nemsequer chega a perceber a necessidade de fazê-lo. Mas é uma técnica que você tem de dominar. É peça essencialdo equipamento de um bom especulador.Seu final - seu basta - é quando você cai fora, dá um suspiro de alívio e relaxa. Como o corredor ao final daprova, você se joga na grama, ao lado da pista, e pensa: “Tudo bem, acabou. Cumpri o meu objetivo inicial. Fiz oque vim fazer. Ganhei a minha medalha. Vou ficar aqui um pouquinho e saborear a vitória.” De um jeito ou deoutro, você chegou ao final.Como, porém, alcançar um final assim, tão definido, num mundo onde não há fitas de chegada nem gongosmarcando o fim de cada round, principalmente quando cada posição atingida parece um novo ponto de partida?Vamos supor que você comprou um punhado de ações da Union Carbide. Ou investiu em ouro, ou na comprade sua casa. Essas não são corridas que terminam num futuro previsível. São corridas abertas. Não há umadistância arbitrada. Você mesmo, sozinho, é que tem que decidir quando rompeu a fita de chagada. A corridaacaba quando você disser que acabou.O 3º Axioma Menor ensina a alcançar esse final. Antes de começar a corrida, estabeleça onde é a linha dechegada.Isto facilita devolver as fichas e embolsar o dinheiro? Não, claro que não. Mas fica muito mais fácil do queentrar em cada especulação com a idéia de que é uma corrida sem fim.Voltemos ao exemplo inicial. Você tem 1.000 dólares, e acha que prata é uma boa especulação. Diz a simesmo: “Vou entrar nisto com o objetivo de...” Mas, seja qual for o seu objetivo, não busque nada muitograndioso, seja modesto. Duplicar, alcançar 2.000 dólares em dois anos, digamos. Ou 1.500 em um ano. Esta é alinha de chegada. Ao longo da corrida toda, não a perca de vista. E quando a alcançar, caia fora.Vejamos como isto o ajuda, do ponto de vista psicológico. Ali está você, na linha de partida, com 1.000dólares no bolso, na esperança de que virem 2.000. Não dá para achar que os 2.000 estão no papo, porque aindanão estão, e você sabe muitíssimo bem que podem nunca estar. A essa altura do campeonato, na linha de partida,2.000 dólares parecem um prêmio pelo qual vale a pena brigar. Não parecem um novo ponto de partida. Parecema chegada.À medida que a operação vai andando, mantenha viva essa sensação. Se e quando atingir o objetivo, a menosque haja razões indiscutíveis, óbvias, para transformar a linha de chegada em novo ponto de partida, faça umcarinho na sua sorte e caia fora.O que podem ser essas “razões indiscutíveis, óbvias” para se continuar numa corrida cujo plano era terminar?Esse tipo de razão só pode ocorrer por alguma mudança drástica, imprevisível, nos fatos e circunstânciasenvolvendo a sua operação. Uma simples mudancinha não é suficiente: tem de ser um cataclisma. Surgiu umasituação inteiramente nova, que não apenas lhe dá esperança, mas praticamente certeza de que o período deganhos prosseguirá.Vamos supor, por exemplo, que você especula em mercadorias, está comprando concentrado de laranja afuturo, e atingiu a sua linha de chegada. Cumprindo o que prometeu a si mesmo, está prestes a vender e pôr olucro no bolso. Ouve, então, que uma geada fora de hora acabou com grande parte da safra de cítricos da Flórida.Em casos assim, pode ser uma boa idéia ficar na corrida ao menos um pouco mais, e ver o que acontece.Situações como essa, porém, são raras. A maior parte do tempo, a fita de chegada só quer dizer uma coisa:acabou.Uma boa maneira de reforçar essa sensação de “final” é estabelecer alguma forma de premiação para sipróprio. Se quiser, que seja uma medalha. Antecipadamente, prometa-se que, se e quando alcançar o objetivopreestabelecido, pegará parte do lucro e comprará um carro novo, um casaco de peles, um banjo de cinco cordas,o que lhe der prazer. Ou que pegará a sua mulher, ou alguém querido, e juntos jantarão o que houver de maisridiculamente caro no restaurante mais caro da cidade.Com isto, o final associa-se a algum fato real, a algum objetivo concreto. Muitos especuladores, mesmoalguns curtidos veteranos da brincadeira, empregam esse estratagema psicológico. Frank Henry costumavapresentear-se com ostras e churrasco de filé mignon à americana - coisas que adorava e que não eram fáceis deencontrar na sua Suíça natal. Jesse Livermore, que às vezes tinha grandes dificuldades em encerrar suaespeculações, a cada vitória presenteava-se com uma nova peça para a sua coleção de antigas canecas de barbear.Mary, a amiga de Gerald Loeb, dava-se um vestido ou um casaco.Considerando-se os volumes de dinheiro arriscados, essas recompensas podem parecer triviais; o importante,porém, é a sensação de final que mesmo esses prêmios aparentemente bobos podem produzir. Se funcionar comvocê, então é esse o caminho a seguir.Não são poucos os solenes assessores de investimentos que franzem a testa a essa prática. Por motivos queninguém jamais foi capaz de explicar direito, desde o século XVIII existe a crença de que dinheiro deinvestimento deve ser inviolável. Não se deve gastá-lo, especialmente em frivolidades como uma dúzia de ostrasou um casaco de peles. Há até uma expressão para definir esse sacrilégio: esbanjar o capital. Que poucavergonha!Mas, como gostava de perguntar Geraldo Loeb:- Por que você se dá a tanto trabalho para ganhar dinheiro? Para que serve? Para ficar olhando?Loeb, provavelmente, foi o primeiro corretor a dizer, publicamente - e, parece, sem se envergonhar -, que oinvestidor/especulador deve gastar parte dos seus ganhos. Na realidade, Loeb chegava a ponto de afirmar que,num ano bom, alcançada ou não a linha de chegada, parte dos lucros deveria ser gasta.Dinheiro de investimento é dinheiro como outro qualquer, chamava ele a atenção. Não tem nada de ficarsegregado, com um cartaz: “Não tocar”. É claro, existem dezenas de boas razões para você sentar no seudinheiro. É uma grande ajuda na velhice; numa emergência, é um belo pára-quedas; é algo para os filhosherdarem; é bom saber que está no cofre, e por aí afora. Tudo muito bem. Só que ele também pode servir paralhe proporcionar um pouco de diversão. Tirar um pouquinho de vez em quando, especialmente numa posiçãofinal, é muito melhor do que geralmente se imagina.É por isto que eu o aconselharia a manter o seu capital especulativo o mais líquido que puder, bem acessível.Isto se faz melhor em algumas especulações do que em outras. Se o seu dinheiro está trancafiado num imóvel ounuma coleção de moedas raras, é capaz de permanecer trancafiado até aparecer um comprador. Um número cadavez maior de bancos, porém, começa a oferecer empréstimos sobre ativos líquidos como esses, a jurosperfeitamente razoáveis. Talvez você possa conseguir algo assim.Com outras especulações, o objetivo de liquidez vem se tornando cada vez mais fácil. Nos últimos anos,bancos e corretoras que operam em ações, opções, mercadorias e metais preciosos vêm criando para os seusclientes tipos altamente inovativos de contas correntes. Eu, por exemplo, mantenho todo o meu capital destinadoa ações num estranho cesto inventado pela minha corretora, a Merril Lynch, chamado de “conta de fundosadministrativos”. É uma combinação de várias coisas: em parte, é uma conta normal de depósito de ações com aqual compro e vendo ações da maneira tradicional; mas também é conta corrente, contra a qual emito cheques,ou saco com o meu cartão de crédito. A conta paga tudo. Isto é que chamo de liquidez imediata.E é perfeito para se celebrar uma posição final. Quando atinjo uma dessas posições, minha mulher, eu e omeu cartão de crédito saímos por Nova York, para um fim de semana de luxo e pecado.Estratégia EspeculativaVamos, então, repassar o que nos ensina o 2º Grande Axioma.Diz, “Venda cedo demais”. Não espere a alta atingir o pico. Não espere que um período de ganhos prossigaindefinidamente. Não teste demais a sua sorte. Parta do pressuposto de que tais períodos são breves. Quandoatingir uma linha de chegada previamente estabelecida, liquide a posição e caia fora. Faça-o ainda que tudopareça cor-de-rosa, mesmo que continue otimista e que todo mundo em volta esteja dizendo que a alta continuarárugindo sem parar.A única razão para não o fazer será algum fato novo, cujo surgimento praticamente garanta que vocêcontinuará ganhando durante algum tempo.Exceto em circunstâncias assim inusitadas, habitue-se a vender cedo demais. E, uma vez vendido, não seatormente se a alta continuar sem a sua presença. É muito provável que ela não vá durar muito. Se durar,console-se pensando nas tantas vezes em que, tendo vendido cedo demais, protegeu ganhos que, de outra forma,teriam ido por água abaixo.

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