quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O 7º Grande Axioma: DA INTUIÇÃO

O 7º Grande Axioma:DA INTUIÇÃO

Só se pode confiar num palpite quepossa ser explicado.Um palpite é parte de uma sensação. É um misterioso pedacinho de alguma coisa que não chega a serconhecimento: um evento mental que experimenta algo semelhante a conhecimento, mas não o sente totalmenteconfiável. Como especulador, é provável que você tenha palpites com freqüência. Alguns serão fortes epersistentes. O que fazer com eles?Aprenda a usá-los, se for capaz.Isto é fácil de falar, mas, como sem dúvida acabará descobrindo, difícil de fazer. O problema da intuição écomplicado, mal compreendido e, para muita gente, perturbador. O fenômeno pode ser abordado de trêsmaneiras distintas:Desprezo - Inúmeros investidores/especuladores ignoram cuidadosamente os seus próprios palpites eridicularizam os dos outros. Insistem em apoiar todas as suas manobras especulativas em fatos ou material querepresente fatos. Com freqüência, tal material não chega a ser grande coisa - gráficos, previsões econômicas -,mas para as pessoas deste grupo parece mais confiável que palpites. Muitas vezes levarão a termo uma jogada,ainda que suas intuições estejam lhes dizendo, francamente, tratar-se da jogada errada. Pensam: ‘’O gráfico dizque é certo, e é por aí que eu vou.’’Confiança indiscriminada - Há pessoas que se apoiam totalmente em palpites, com demasiada freqüência, esem suficiente ceticismo. Qualquer intuição maluca vira razão para uma jogada, mesmo que uma análise racionalda situação pudesse resultar em idéias completamente diferentes. ‘’Sigo os meus palpites’’, dizem essas pessoas,orgulhosas; só não dizem é que esses palpites maravilhosos costumam levá-las a calamidades especulativas.Utilização seletiva - É o método de Zurique, por trás do qual está a idéia de que a intuição pode ser útil. Seriauma pena desprezar, de maneira categórica, instrumento especulativo potencialmente tão valioso - jogar foratodos os palpites somente porque alguns são tolos. Por outro lado, é certo que alguns palpites não merecem outrodestino senão a lata de lixo. O desafio, aqui, é separar os que têm valor dos que não valem nada.O primeiro passo, então, será descobrir o que é um palpite, exatamente. De onde vêm esses estranhospedacinhos de quase-conhecimento?É menos misterioso do que parece. Há quem explique intuição falando de percepção extrasensorial e poderesocultos, mas nada disso é necessário. Um palpite é um evento mental que ocorre na mais absoluta normalidade.Quando você é atingido por um forte palpite - por exemplo: ‘’Acho que esta companhia tem problemas maioresdo que dizem!’’ -, é possível que essa conclusão seja baseada em fatos, em algo sólido que esteja arquivado emalgum canto da sua mente. O que torna tudo espantoso é que se trata de informações que você não sabe quepossui.Será plausível isto? Claro! É uma ocorrência rotineira. O Dr. Eugene Gendin, um psicólogo da Universidadede Chicago que passou anos estudando o assunto, afirma que saber algo sem sabermos como o sabemos éexperiência humana comum.O Dr. Gendin chama a atenção para o fato de que, diariamente, absorvemos quantidades colossais deinformação - muitíssimo mais do que somos capazes de arquivar no consciente, a fim de recuperar sob forma dediscretos retalhos de informação. A maior parte vai para algum reservatório logo abaixo ou atrás do nívelconsciente.Por exemplo, pense em algum homem ou mulher que tenha desempenhado papel importante na sua vida.Essa pessoa não retorna sob forma de discretos detalhes de informação - cabelos castanhos, olhos azuis, gosta decomida chinesa etc. Ao longo dos anos, você arquivou milhões desses detalhes, muito mais do que seria capaz delistar numa vida inteira. Em vez de retornar em retalhos de informação, a pessoa chega inteira, integral. Tudoque você sabe e sente sobre ela, tudo que você algum dia pensou, sentiu ou experimentou em relação a essapessoa vem de uma vez, misteriosamente extraído do colossal arquivo do quase-não-conhecimento.Imagine topar com essa pessoa na rua. Instantaneamente, você sabe de quem se trata. Sem qualquerpensamento a nível consciente, você reage de maneira adequada. Contudo, se lhe perguntassem como reconheceessa pessoa, quais, exatamente, os indícios que o levam a reconhecê-la - o desenho do nariz? o jeito de andar? -,você não saberia responder. Sabe que conhece a pessoa, mas não sabe como.Da mesma forma, se essa pessoa lhe telefonar, reconhecerá a voz instantaneamente. Como? Através de queindícios, exatamente? Não existe resposta. Se tentasse me descrever essa voz de maneira que eu também apudesse reconhecer, descobriria ser impossível. A informação existe na sua cabeça, em algum lugar, mas vocênão sabe exatamente o que é, nem onde está.É disto que são feitos os palpites. Você sabe quando um palpite é bom, mas não sabe como sabe.Por exemplo, uma mulher que especula em imóveis na Nova Inglaterra contou-me sobre um palpite que teveno meio da noite. Acabara de reformar uma antiga casa de beira de praia, no Maine, e vinha tentando vendê-la,não tendo recebido nenhuma oferta que se aproximasse do que estava pedindo. Uma delas era quase aceitável,mas não atingia exatamente a cifra que a mulher estabelecera para fazer negócio com a casa. Esperava mais, esentia-se confiante.De repente, na madrugada de um dia chuvoso, a mulher acordou com um forte e insistente palpite de quedevia aceitar a oferta. A intuição lhe dizia que o mercado de antigas casas de praia estava prestes a ceder, talvezaté a desabar. Não sabia como sabia disto. Só sabia que sabia.Teve medo, porém, de seguir o palpite. O problema de sempre deixava-a perplexa: não conseguia enxergar oarquivo de informações no qual o palpite se baseava.Conversamos a respeito. Sua inclinação inicial era rir do palpite e esperar que desaparecesse. Dali a poucocomeçamos a chegar à conclusão de que ele bem poderia basear-se em informações boas e confiáveis.Afinal de contas, fazia muitos anos que ela vinha estudando a economia costeira do Maine e o papeldesempenhado pelos imóveis. Assinava dois jornais locais, pertencia a uma associação de proprietários deimóveis, e freqüentemente conversava com corretores e outras pessoas do ramo. Mantinha-se igualmente beminformada sobre o país e o mundo. Entre outras publicações, lia Business Week regularmente. Podíamos dizer,então, com toda confiança, tratar-se de pessoa que dispunha de um grande banco de dados importantes relativosao valor de venda de uma casa no litoral do Maine.Muito dessas informações, porém, estava num nível não-consciente da sua mente. Na verdade, talvez a maiorparte. A porção consciente seria como a ponta de um iceberg.O palpite perturbador ocorreu, concluímos nós, quando foram feitas ligações naquele imenso banco de dadosdo não-consciente. Fatos foram se encaixando como peças de um quebra-cabeça, sem que ela os dirigisseconscientemente. Talvez existissem dezenas dessas informaçõezinhas esquecidas: algo que lera, algo queescutara numa reunião, uma observação de um corretor feita meses antes. Tudo junto, resultou numa convicçãointuitiva de que o mercado imobiliário do litoral do Maine estava prestes a ceder.Resolveu apostar no palpite. Aceitou a oferta mais alta. Passou-se um mês apenas, e já ficava claro que fizerao certo, de forma brilhante. A oferta que aceitara era a mais alta que ouviria em muito, muito tempo.Agora podemos compreender o 7º Grande Axioma, quando ele diz que só se pode confiar num palpite quepossa ser explicado.Quando lhe ocorrer um palpite, a primeira pergunta a fazer é se na sua mente existe um arquivosuficientemente grande de informações, capaz de gerá-lo. Embora não saiba, nem possa saber exatamente quaissejam as informações relevantes, é plausível achar que existem?Se for um palpite acerca de imóveis no litoral do Maine, pergunte-se se você realmente entende alguma coisadisso. Estudou o assunto? Vem acompanhando as altas e baixas desse mercado? Se o palpite for sobre o preço daprata, terá você absorvido bastante conhecimento sobre o metal e suas complexas inter-relações com outrasatividades econômicas? Se o palpite diz respeito a uma pessoa - ‘’esse cara está a fim de me enganar’’ -, será quevocê o conhece bastante, há tempo suficiente para poder fazer avaliações de caráter?Submeter os palpites a estes testes rigorosos é importante por que, às vezes, temos lampejos intuitivos quenão se baseiam em fatos. Esses não contam. De onde vêm? Sei lá. São como sonhos. Vêm de lugar nenhum, nãosignificam nada e não levam a parte alguma. É o cérebro fazendo artes.Uma bela manhã, você está lendo o jornal e topa com uma nota sobre a posse do novo presidente da Oba-ObaComputadores. De repente, lá vem aquele palpite fantástico. Esse cara novo levará a Oba-Oba às alturas. Vaiengolir o mercado! Te cuida, IBM! O preço das ações vai disparar feito foguete.Antes de ligar para a corretora, porém, vamos testar esse magnífico palpite. O papo que você terá consigomesmo deverá ser mais ou menos o seguinte:- Tudo bem, amigo, vamos ver isto com calma. O que é que sabe sobre a Oba-Oba Computadores?- Bem... hmmm... de vez em quando leio alguma coisa a respeito. Parece uma empresa sólida.- Mas você fez algum estudo sobre ela? Tem, realmente, acompanhado a sua trajetória?- Não, isso não.- E esse novo presidente, que tal? Sabe tudo sobre ele?- Bem... hmmm... Não exatamente...- Na verdade, jamais ouviu falar do sujeito, não é mesmo? E de onde é que vem toda essa fé nele?- O repórter do jornal parece que o achou um cara legal.- Também nunca deve ter ouvido falar nele. A metade da nota, provavelmente, saiu do press releasedistribuído pela própria empresa. E então? Acha mesmo que tem um banco de dados suficiente para gerar umpalpite confiável?- Bom... hmmm...- Ô cara, vamos tomar uma cervejinha e esquecer esta história toda.Esse tipo de teste, é claro, não garante que jamais terá um palpite errado. Mesmo o palpite mais solidamentebaseado pode estar errado. Por outro lado, um palpite maluco, vindo não se sabe de onde, pode estar certo, comoqualquer adivinhação desvairada. O que este procedimento faz é melhorar as probabilidades a seu favor. Põevocê numa posição melhor que a dos que desprezam os palpites, e também daqueles que acham que todos ospalpites caem do céu. Em relação aos primeiro, você tomará mais providências quando o palpite for bom;comparado aos segundos, será mais capaz de escapar dos palpites furados.Faça o que fizer, porém, mantenha o resto dos Axiomas à mão. Por melhor que pareça o palpite, não permitaque ele o arraste a excessos de confiança. Mantenha-se preocupado. A intuição pode ser um instrumento útil aoespeculador; não é, porém, a fórmula longamente procurada, infalível, para decisões financeiras 100%^corretas.Conforme já vimos, essa fórmula não existe.11º AXIOMA MENORJamais confunda palpite com esperança.Quando você quer muito alguma coisa, é facílimo passar a acreditar que tal coisa acontecerá. Este dado dapsicologia humana deixa confusas as crianças que sonham com o que querem no Natal, e confunde também osespeculadores que sonham com o dinheiro que vão ganhar.Você vai a uma exposição de arte numa cidadezinha do interior, e compra algumas telas de um artistaobscuro chamado Trashworthy. Leva-as para casa e descobre que, afinal de contas, não gosta tanto dos quadrosquanto pensava. Na verdade, são bem ruinzinhos. Uma vozinha desagradável começa então a insinuar que talveztenha jogado dinheiro fora. Mas a voz perturbadora é rapidamente afogada pelo trovejar de um fantástico palpite.Um dia, diz o palpite, Trashworthy conquistará o reconhecimento que merece! Colecionadores de todo o mundodisputarão suas telas! Grandes museus farão ofertas por elas!Será que tal palpite merece ser ouvido? Ou trata-se apenas de uma esperança?Pessoalmente, quando tenho um palpite de que algo que quero que aconteça vai acontecer, a minha regra émanter em alta o nível de ceticismo. Não, isto não quer dizer que todos os palpites deste gênero estejam errados.Significa, tão-somente, que devem ser examinados com cuidados extras, e que a nossa guarda deverá ser dobradano caso de complicações.Em contrapartida, inclino-me muito a confiar numa intuição que me diz que acontecerá algo que eu nãoquero. Tivesse eu comprado os tais quadros, e tido o palpite de que Trashworthy nunca valeria nada mesmo (e seeu tivesse conhecimentos artísticos suficientes para tornar plausível esse palpite), minha tendência seria passar osquadros adiante o mais rápido possível.Estratégia EspeculativaO 7º Grande Axioma diz, então, que ambas as atitudes são erradas: ridicularizar categoricamente os palpites,ou confiar neles indiscriminadamente. Embora não seja infalível, a intuição pode ser um útil instrumentoespeculativo, desde que tratada com cuidado e ceticismo. A intuição não tem nada de mágico, nem do outromundo. É simplesmente, a manifestação de uma experiência mental absolutamente comum: a de se saber algumacoisa sem se saber como se sabe.Se você tiver um palpite muito forte a lhe recomendar uma determinada jogada com seu dinheiro, o 7ºGrande Axioma insiste em que tal palpite seja submetido ao teste. Só confie nele se puder explicá-lo, isto é, sefor capaz de identificar, na sua mente, um banco de dados do qual pode supor, com razoável certeza, que oreferido palpite se originou. Não tendo o banco de dados, descarte o palpite.O 11º Axioma Menor, por sua vez, adverte que palpites pode, facilmente, ser confundidos com esperança.Tenha cuidados especiais com lampejos de intuição que parecem prometer conclusões que você deseja muito.

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